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A receita dos banqueiros para evitar novos casos como o do Master-BRB

A proposta pode causar arrepios em grande parte da esquerda, mas lideranças do mercado financeiro voltaram a adotar o discurso de que a única forma para reduzir fraudes e evitar a ingerência política em bancos públicos seria a privatização de todos eles, em linha com o que foi feito, por exemplo, com o Banespa, no fim dos anos 1990 e início dos anos 2000. A frase de um banqueiro resume esse espírito: os bancos, diz ele, “têm de ser 100% voltados ao lucro.”

O escândalo que envolveu o Banco de Brasília (BRB), controlado pelo governo do Distrito Federal, e o Master, de Daniel Vorcaro, deu nova munição a esse discurso. Investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal apontam que o Master vendeu ao BRB cerca de R$ 12,2 bilhões em carteiras de crédito inexistentes ou sem lastro, em operações amparadas por documentos falsos entregues ao Banco Central. Em decisão judicial mencionada pelo Ministério Público Federal, haveria participação dedirigentes do BRB na engenharia: eles teriam permitido a transferência de recursos bilionários ao Master, configurando suspeitas de gestão fraudulenta em instituição financeira, crime previsto na Lei 7.492/86.

Paralelamente, o Banco Central decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master, enquanto o BRB afirma já ter recuperado cerca de R$ 10 bilhões dascarteiras negociadas. O caso ganhou ainda mais peso político e simbólico depois da prisão de Vorcaro, pela Polícia Federal, no âmbito da Operação Compliance Zero. O banqueiro deixou a prisão no último sábado, depois de 11 dias preso, com a condição de entregar o seu passaporte. Por ordem judicial, ele também passou a usar uma tornozeleira eletrônica.

Segundo a própria PF, a investigação começou em 2024 a partir de umaprovocação do Ministério Público Federal, e o alerta decisivo partiu do BC, que desmantelou o rombo bilionário nas operações envolvendo o BRB. A dimensão do caso levou o Ministério Público Federal e o BC a tratarem o episódio como um dos maiores esquemas fraudulentos recentes contra o sistema financeiro nacional, com impacto direto sobre fundos públicos e investidores de varejo. O episódio reacende a memória da privatização do Banespa, frequentementemencionada por agentes do mercado como modelo de “descontaminação”política de bancos estaduais.

A transação de alienação de ações do antigo banco paulista ocorreu em 20 de novembro de 2000, no âmbito do Programa Nacional de Desestatização, previsto na Lei 9.491/1997, e teve como comprador o espanhol Santander. Naquele período, o governo federal era chefiado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, enquanto o Estado de São Paulo tinha Mário Covas à frente do Palácio dos Bandeirantes. O caso tornou-se exemplo de redução de bancos estaduais sob controle direto de governos, numa tentativa de blindar o sistema financeiro de práticas clientelistas e uso eleitoral de crédito e folha de pagamento.

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Duas décadas depois, o caso BRB–Master parece indicar que a vulnerabilidade à política de captura persiste quando a governança dos bancos públicos é frágil e há falha de supervisão interna — mesmo em ambiente de regulação mais robusto. Para a Faria Lima, centro financeiro do País, a lição é conhecida: sem alinhamento integral a critérios privados de risco e rentabilidade, bancos estaduais tenderiam a permanecer expostos à pressão de governadores, secretarias e grupos de interesse, com incentivos permanentes a “favores” e atalhos que abrem espaço para fraudes.

Entre quem defende o crédito público regional, porém, o temor é o inverso: que o pêndulo da privatização, sob o pretexto de controlar escândalos, termine com restrições ao acesso de governos locais a instrumentos financeiros essenciais, sem atacar a raiz da política da má gestão.

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