O único brasileiro na NFL, Cairo Santos enfrenta nesta sexta, 28, o Philadelphia Eagles. Como kicker do Chicago Bears, ele chega para encarar os atuais campeões nesta Black Friday depois de dar o chute da vitória na última rodada contra os Vikings.
Cairo está em sua 12ª temporada na liga e a sua equipe vive um bom momento: os Bears lideram a divisão norte e está em terceiro lugar na Conferência Nacional. Com o mesmo número de vitórias e derrotas, os Eagles estão em segundo lugar e tem a vantagem de jogar em casa para evitar que o adversário o ultrapasse na tabela.
Em entrevista a VEJA, Cairo conta sobre os preparativos para o duelo e sua trajetória na NFL
Qual a sua expectativa para o jogo contra o Eagles?
É um teste gigante. E vai ser gigante a cada semana que está vindo com seis jogos restantes. A sensação já é de urgência de playoff. No calendário, a gente joga contra equipes que estão brigando pela mesma vaga ou até mesmo o título da divisão com a gente. E então já é a sensação de playoffs e essa urgência de ganhar, começar o jogo rápido, pontuando e impondo o nosso jogo para cima para cima deles. Os Eagles são os campeões, tem um excelente recorde também, uma excelente equipe. Então é importante a gente entrar nesse jogo já com muito gás para tentar tirar a vida deles no jogo.
O que passa na sua cabeça nos momentos decisivos do jogo?
Esses momentos de dar o chute da vitória nos últimos segundos da partida são momentos que a gente sonha toda semana de ter essa influência no jogo. E é uma alegria viciante. Cada momento desse que você tem, te faz querer o próximo cada vez mais.

Qual o seu field goal mais marcante?
Eu diria que para mim foi ano passado, dando a vitória contra o Green Bay Packers no último jogo da temporada. Quebrou uma sequência de derrotas que a gente tinha naquele ano, sequência de derrotas contra o Green Bay Packers, um grande rival nosso, e um chute de 51 jardas que deu a vitória. Foi bem marcante.
O que você aprendeu nas suas 11, com a atual, 12 temporadas na NFL?
O maior aprendizado é como encarar a temporada da NFL. A temporada de um kicker com muitos altos e baixos. Eu vou sempre encarar os momentos positivos e sempre tentar aprender com eles, melhorar e focar mais. E também os negativos que você tiver de transformar em um positivo. Algo que vai me tornar uma versão ainda melhor do que eu sou.
Às vezes as emoções são difíceis de lidar porque a gente joga um jogo, erra um chute e só tem uma oportunidade de novo no próximo jogo depois de uma semana. No futebol americano, você tem que segurar um pouco mais e aprender a lidar com isso. Então, cada ano que eu vivo na NFL, parece que eu me sinto uma versão melhor que espera melhores resultados, mas que aprende também bastante quando eles não vêm.
Como foi a sua trajetória para entrar na NFL?
Eu nasci no Brasil, jogava o nosso futebol desde quando eu consegui andar e era muito competitivo, tinha esse sonho de ser um atleta de futebol. Mas eu comecei a ficar um pouco para trás ali na minha equipe.
Até meu pai me dar a oportunidade de um intercâmbio por um ano na Flórida, eh, onde eu aprenderia muito o inglês e a cultura americana em um high school (ensino médio), mas também com a prática de esportes.
Quando cheguei, meus amigos já falaram que eu devia ser o kicker, que chuta a bola. Eu nem nem sabia, nem tinha prestado atenção que tinha um cara que só chutava a bola no futebol americano.
No dia seguinte, eles me levaram para fazer um um treino no high school e já no primeiro dia eu chutava a bola de 50 jardas e o técnico falou: “Não, você está no time e você vai jogar nesse próximo jogo e você tem talento para jogar em faculdade.” Então aquilo assim brilhou uma lâmpada na minha cabeça que seria uma rota. Eu ainda sou apaixonado pelo futebol, mas o futebol americano se tornou outra rota para eu virar um atleta profissional que na verdade para mim sempre foi o sonho.
Por curiosidade, em qual posição você jogava no futebol?
No Brasil eu era mais atacante. Eu sempre chutei muito bem com a direita e com a esquerda e fazia muitos gols sempre quando entrava nos jogos. Mas não gostava de marcar muito não. Eu era só acelerar e chutar. Era fominha. Não tocava muito a bola. Mas quando eu vim para os Estados Unidos, eu quis evoluir mais no meu jogo e eu desci um pouco para o meio-campo e mais ofensivo ainda. E eu gostei muito de jogar no meio-campo, mas eu meu faro é gol mesmo.