Uma pesquisa inédita realizada pela consultoria On The Go, encomendada pelo Boticário, mostra que o bullying dentro das famílias brasileiras é um fenômeno frequente, silencioso e muitas vezes naturalizado. Segundo o levantamento, 86% dos brasileiros já vivenciaram situações que os deixaram desconfortáveis ou magoados no convívio com parentes, incluindo críticas, provocações e comparações repetidas. O estudo ouviu 2.000 pessoas de todas as regiões do país e buscou mapear as dimensões desse comportamento, que costuma ser tratado como “brincadeira”, mas deixa marcas emocionais duradouras.
Essas situações ocorrem principalmente em momentos de convivência cotidiana, quando alguém da família tenta “fazer graça” ou quebrar o silêncio. Para 39% dos entrevistados, as provocações surgem justamente nesses contextos; para 35%, aparecem em discussões; e para 32%, durante refeições ou conversas triviais. Mesmo assim, a maior parte dos brasileiros diz ter boas relações familiares, o que contribui para que o problema continue invisível.
Quem mais sofre e quem mais pratica?
O levantamento revela que a aparência física é o principal alvo das “brincadeiras”: metade dos entrevistados afirma ter sofrido comentários negativos sobre corpo, peso, cabelo ou envelhecimento. Essa forma de bullying atinge sobretudo mulheres e jovens. Entre elas, 23% relatam vivenciar essas situações com frequência, em comparação a 15% dos homens. Entre jovens de 18 a 24 anos, o índice sobe para 28%, acima da média nacional.
É dentro das relações mais próximas que esse comportamento aparece com mais força. Irmãos lideram as práticas de piadas e críticas, seguidos por tios, primos, mães e pais. A proximidade afetiva aumenta a frequência das provocações e muitas vezes mascara o impacto emocional que causam.
Além das críticas diretas, o estudo registra que 80% dos brasileiros já foram comparados de forma pejorativa com irmãos, primos, vizinhos ou conhecidos; um tipo de cobrança que interfere na construção da individualidade e frequentemente é apresentada como incentivo.
Quais são os efeitos sobre autoestima e saúde emocional?
As agressões verbais deixam marcas profundas. De acordo com a pesquisa, 87% afirmam ter sentido consequências emocionais ou comportamentais após episódios de bullying familiar. Entre os impactos mais citados estão insegurança, retração, dificuldade de se expressar e aversão a conversas que possam gerar conflito.
O efeito sobre a autoimagem é ainda mais contundente. Nove em cada dez brasileiros relatam impactos negativos na autoestima decorrentes de piadas, críticas ou comparações. Em muitos casos, o bullying aparece na forma de indiferença: 84% dizem que deixam de expressar opiniões dentro de casa para evitar novas situações de desconforto ou para não serem interrompidos.
Apesar da frequência, apenas 17% conversam com regularidade sobre o que sentem quando são alvo dessas situações. Vergonha, medo de desestabilizar o ambiente familiar e a crença de que “não é tão grave” são alguns dos fatores que mantêm o problema em silêncio.
Outro dado relevante é que 57% dos entrevistados não sabem exatamente o que significa o termo “bullying familiar”, o que ajuda a explicar por que o tema raramente é debatido de forma aberta.
O que os brasileiros querem mudar na comunicação dentro de casa?
Embora o cenário seja marcado por mágoas não verbalizadas, a pesquisa aponta uma expectativa clara por mudança. A imensa maioria dos entrevistados, 98%, acredita que palavras e gestos de afeto têm poder para transformar relações familiares de maneira positiva. Quando questionados sobre o que gostariam de ouvir com mais frequência, destacam elogios, acolhimento, incentivo e expressões explícitas de afeto.
Há também um desejo generalizado por relações mais leves. Para 28% dos ouvidos, a principal mudança desejada é mais respeito na forma de se expressar, especialmente evitando palavras que machucam. Outros 23% pedem mais carinho, 18% querem mais compreensão e 15% defendem conversas mais calmas, com menos julgamentos.
A percepção coletiva é de que o assunto precisa ser discutido além do ambiente doméstico. Para 92% dos entrevistados, a sociedade deveria falar mais abertamente sobre bullying familiar, reconhecendo suas consequências e estimulando práticas de comunicação mais saudáveis.