Estreado oficialmente nesta quinta-feira, 27, o longa Mãe Fora da Caixa, da diretora Manuh Fontes, acaba de chegar aos cinemas de todo o país, protagonizado por Miá Mello e Danton Mello. O filme é inspirado no best-seller de Thaís Vilarinho e traz um retrato cômico e emocionante sobre a maternidade, com uma trama que explora – de maneira descontraída e bastante verdadeira – as experiências e transformações vividas por uma mãe de primeira viagem. Miá estrela no papel de Manu, uma mulher trabalhadora e obcecada por controle que vê sua vida virar de cabeça para baixo com a chegada de sua primeira filha. Embalada por um turbilhão de sentimentos e mudanças abruptas, ela enfrenta os desafios de ser mãe, incluindo inúmeras noites em claro, sensação constante de culpa e incontáveis tentativas de conciliar casamento e autocuidado. Ao lado de seu marido André, vivido por Danton, Manu mergulha em uma jornada de reencontro consigo mesma ao aceitar que não existe um manual para a maternidade, aqui representada de forma crua e sem romantização. Em entrevista a VEJA, a atriz e a diretora contam sobre os processos do filme e lançam olhar para a importância de se retratar a maternidade sem idealizações.
[Miá] Houve algum momento durante as gravações em que você percebeu que sua personagem estava enfrentando algo que você viveu na vida real? Tem uma coisa super íntima e que quase ninguém sabe, mas quando eu tive a Nina, minha primeira filha, e que hoje tem 16 anos, ela nasceu de parto normal e com o cenho todo franzido. Eu bati o olho e foi uma sensação muito estranha, quase como um estranhamento do bebê que estava ali nascendo. Acho que eu idealizava muito uma coisa e, quando ela nasceu, eu não tive coragem de dividir isso nem com o pai dela porque eu pensei: “Eu não posso sentir isso, eu tenho que estar plena e sentir o maior amor do mundo hoje”. Sinto que isso também aconteceu na vida da Manu: ela idealizava o parto e o nascimento da filha, e as coisas acontecem de forma completamente diferente, ao ponto dela falar: “Gente, a bebê só chora comigo, cadê aquela conexão?” Então, eu me identifico em vários momentos e acredito que esse projeto tem o poder de — independente do recorte específico de uma maternidade privilegiada — mostrar lugares em que a gente se conecta, mesmo não sendo sobre a minha maternidade.
[Manuh] Qual foi o seu principal desafio como diretora na realização desse projeto? Desde o início, a ideia era fazer um filme verdadeiro e que falasse de uma maternidade real, sem romantizar as coisas. Para isso, eu optei por filmar com crianças de verdade e, como tínhamos uma história na qual 90% das cenas eram com bebês, havia momentos em que eles riam, choravam, sofriam e diversas situações aconteciam. Foi um desafio porque eu tive que aprender, durante as filmagens, como fazer aquilo funcionar. Um bebê não é um ator pronto que você chega, dirige e diz como que as coisas vão acontecer. Tivemos que armar toda uma preparação, porque eram bebês muito pequenininhos. Teve toda uma estrutura de produção para isso, mas eu também comecei a perceber a energia de cada bebê e a temperatura do filme ganhou muito com isso.
[Miá] Como você encontrou o equilíbrio na construção de uma personagem que é ao mesmo tempo cômica e emotiva? Eu acho que a gente conseguiu mostrar isso no filme fazendo aquelas idas ao futuro da Manu. Ela vem do futuro para dar conselhos, e eu acho isso maravilhoso, porque ela passou pelo olho do furacão. Tendo uma filha de 16 anos, eu posso dizer que os desafios só mudam de cara, mas eles seguem existindo e, quando você sai daquela fase, olha para trás e vê as coisas sem o calor do momento. Então, foi interessante fazer esses dois tempos, de uma Manu já vivida e saída desse olho do furacão versus aquela que ainda está falando.
[Manuh] Por que fazer este filme agora? Eu acho que Mãe Fora da Caixa não é um filme só sobre maternidade. Ele é um filme sobre humanidade, porque a sociedade coloca a maternidade dentro de caixas. O mundo idealiza o papel da mulher, ela é a cuidadora, tem que estar sempre plena e romantizar esse momento, enquanto, na verdade, a maternidade é linda, bonita e amorosa, mas ela também é dolorida, traz medo e solidão. Por isso, eu acho que quanto mais a gente olha isso com verdade, melhor vai ser. Essa é a maior motivação: poder falar sobre um tema feminino que foi silenciado durante muito tempo, ou foi contado por perspectivas e olhares masculinos.
[Miá] O que te levou a fazer parte do filme? Eu faço a peça de Mãe Fora da Caixa há seis anos e sinto que, mesmo a gente já falando sobre maternidade real e tendo noção dos lugares do homem e da mulher dentro de uma família e da questão da paternalidade, ainda é muito necessário falar sobre esse tema. Eu converso com diversas mães na peça e sempre costumo perguntar: “Quem aqui está saindo pela primeira vez sem o bebê?” E em 95% das vezes elas saíram de casa deixando absolutamente tudo organizado, roupa empilhada, comida separada… Isso porque eu estou falando com um público nichado, específico e privilegiado que está sentado em uma sala de teatro e que já tem informações sobre isso. Então, eu acho que a gente tem uma prestação de serviço ao falar sobre esse filme, para que ele sirva como uma ilustração do que é esse momento tão revolucionário na vida de uma mulher e de uma família, como um lugar para a gente conseguir mostrar o caos e a delícia que o puerpério.
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