A Vara do Júri de Guarulhos, na Grande São Paulo, determinou a exumação do corpo de Hayder Mhazres, morto em maio de 2025, por possível envenenamento. As acusadas do crime são as irmãs gêmeas Ana Paula e Roberta Cristina Veloso Fernandes, segundo o Ministério Público paulista.
De acordo com despacho publicado no Diário de Justiça Eletrônico Nacional, a Justiça paulista considera a medida, a ser realizada na Tunísia, país de origem da vítima, “imperiosa, uma vez que as circunstâncias de seu óbito indicam morte por envenenamento. Observa-se que os laudos preliminares de toxicologia emitidos pelo Núcleo de Toxicologia Forense do Instituto Médico Legal concluíram pela ausência de detecção de substâncias tóxicas, fármacos, drogas de abuso, praguicidas e voláteis nas amostras de sangue coletadas. No entanto, conforme consignado nos laudos supramencionados, o sangue, por ser altamente metabolizado e degradável não é o material de eleição para identificação de compostos tóxicos, sobretudo em casos suspeitos de envenenamento por substâncias de metabolização rápida ou de natureza lipossolúvel, que tendem a se concentrar preferencialmente em tecidos sólidos, vísceras e conteúdo gástrico”.
A exumação será realizada por meio de cooperação internacional, com atuação conjunta do Ministério das Relações Exteriores, da Embaixada do Brasil na Tunísia, da Interpol-Polícia Federal e das autoridades tunisianas competentes. Ainda não há data definida. Ainda segundo os autos, familiares de Mhazres não queriam permitir a remoção do corpo da sepultura por questões religiosas. No entanto, todos assinaram termo enviado à Justiça concordando com a medida diante da importância na esfera criminal. No dia 13 deste mês, VEJA mostrou que a Tunísia cobrou explicações do Brasil sobre o caso envolvendo cidadão daquele país. A Justiça de Guarulhos enviou cópia dos autos para Embaixada do país africano.
As defesas de Ana Paula e Roberta Cristina
A ré Ana Paula apresentou resposta à acusação e sua defesa diz que a denúncia formulada pela Promotoria se baseia em indícios parciais e alegações imprecisas colhidas na fase inquisitorial, sem a robustez necessária para sustentar a ação penal. Alegou que o Ministério Público imputa a ré uma cumulação excessiva de qualificadoras (motivo torpe, mediante recompensa, veneno e recurso que dificultou a defesa), o que configura “excesso acusatório”. Requereu a impronúncia da acusada — ou seja, que o caso não seja encaminhado para Júri Popular — ou a absolvição sumária.
A corré Roberta Cristina Veloso Fernandes também apresentou reposta à acusação e requereu, preliminarmente, a revogação da prisão preventiva. No mérito, postulou a absolvição sumária pela inexistência de indícios mínimos de autoria. Aduziu que a denúncia se baseia em suposições anêmicas e em conversas telefônicas como prova inequívoca de participação dolosa da acusada Roberta. Alegou que a tese de que a acusada encorajava ou induzia a ré Ana Paula é pura alegação desprovida de lastro probatório concreto, sendo um mero juízo de probabilidade e não de certeza, o que é inadmissível. Explanou que as qualificadoras são frágeis, razão pela qual requereu o afastamento.
De acordo com a Vara do Júri de Guarulhos, “em que pese as teses defensivas, há indícios suficientes de autoria em relação a ambas as rés e materialidade para processar o feito, devendo as dinâmicas dos fatos serem melhor apuradas quando da instrução do autos. E não se vislumbra, por ora, nenhuma excludente de ilicitude, culpabilidade ou punibilidade. Assim, não está presente nenhuma hipótese de causa de absolvição sumária”, diz no despacho. Ainda segundo o documento, “as demais questões levantadas pelas defesas serão enfrentadas no momento processual oportuno”. As audiências de instrução, debates e julgamento foram marcadas para os dias 6, 7 e 8 de abril de 2026.
A sequência dos crimes
Segundo os autos, em janeiro deste ano, em horário desconhecido, na rua São Gabriel, altura do número 234, no bairro Vila Renata, em Guarulhos, “agindo com motivação torpe, ciente não só do emprego insidioso de veneno, bem como do uso de recurso que dificultou a defesa da vítima”, teria concorrido de qualquer modo para que sua irmã gêmea Ana Paula Veloso Fernandes ministrasse substâncias letais para Marcelo Hari Fonseca.
Posteriormente, entre os dias 10 e 11 de abril deste ano, à rua Guaratuba, 372, bairro Bom Clima, em Guarulhos, Roberta, “imbuída de motivação torpe, sabedora não só do emprego insidioso de veneno, como também da utilização de recurso que dificultou a defesa da ofendida”, teria concorrido de qualquer modo para que sua irmã gêmea Ana Paula ministrasse substância letal para Maria Aparecida Rodrigues.
Ainda em abril, no dia 26, na rua Bernardo Saião, s/n, lote 5, quadra 31, no bairro Parque Uruguaiana, em Duque de Caxias (RJ), Roberta, “em razão de promessa de recompensa, ciente do emprego insidioso de veneno, bem como do uso de recurso que dificultou a defesa da vítima, teria concorrido de qualquer modo para que sua irmã gêmea Ana Paula ministrasse substância letal para Neil Correa da Silva”, então com 65 anos. O quarto caso seria o tunisiano.
Possíveis vítimas das irmãs gêmeas
Nome: Marcelo Hari Fonseca | Data do crime: Janeiro de 2025 | Local do crime: Guarulhos-SP | Método: Envenenamento
Nome: Maria Aparecida Rodrigues | Data do crime: Abril de 2025 | Local do crime: Guarulhos-SP | Método: Envenenamento
Nome: Neil Correa da Silva | Data do crime: Abril de 2025 | Local do crime: Duque de Caxias-RJ | Método: Envenenamento
Nome: Hayder Mhazres | Data do crime: Maio de 2025 | Local do crime: São Paulo-SP | Método: Envenenamento