O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu à primeira-ministra do Japão, Sanae Takaichi, para que não agravasse a crise com a China, informou a agência de notícias Reuters nesta quinta-feira, 27. Em telefonema no início da semana, o republicano teria dito que não queria uma escalada maior das tensões, embora não tenha feito exigências específicas para a premiê, disse um funcionário do governo japonês. O mal-estar teve início após Takaichi sugerir que um ataque a Taiwan poderia levar a uma resposta militar de Tóquio.
A China reclama a pequena nação insular, que tem governo próprio, como parte de seu território. A ligação entre Trump e Takaichi foi realizada na terça-feira, 25, um dia após o republicano aceitar o convite do presidente chinês, Xi Jinping, para uma visita a Pequim em abril. Em movimento incomum, dada a instabilidade da relação entre China e EUA pela guerra tarifária, o telefonema foi realizado a pedido de Xi, que reiterou sua posição sobre como o retorno de Taiwan ao mapa chinês é “parte importante da ordem internacional”.
A Casa Branca salientou, contudo, que a conversa teve como “foco principal” a elaboração de um acordo comercial. Eles também discutiram questões relacionadas à “Ucrânia/Rússia, fentanil, soja e outros produtos agrícolas”, escreveu Trump na Truth Social, rede social da qual é dono. O líder americano disse, ainda, que convidou Xi para uma visita oficial aos EUA, ainda sem data marcada.
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Tensões em alta
No domingo, 23, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, alertou que o Japão “cruzou uma linha vermelha”. Ele também adiantou que o governo chinês está preparado para “responder resolutamente” caso necessário e que todos os países têm a responsabilidade de “impedir o ressurgimento do militarismo japonês”.
“É chocante que os atuais líderes do Japão tenham enviado publicamente o sinal errado de tentar uma intervenção militar na questão de Taiwan, tenham dito coisas que não deveriam ter dito e cruzado uma linha vermelha que não deveria ter sido ultrapassada”, disse Wang, em referência à declaração da premiê japonesa a parlamentares no início do mês.
A declaração seguiu uma carta enviada ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, na qual o embaixador chinês na ONU criticava a “grave violação do direito internacional” e das normas diplomáticas por Takaichi. O documento afirmava que “se o Japão ousar tentar uma intervenção armada na situação do Estreito, será um ato de agressão”, acrescentando: “A China exercerá resolutamente seu direito de autodefesa sob a Carta da ONU e o direito internacional e defenderá firmemente sua soberania e integridade territorial”.
Ainda na semana passada, a China suspendeu importações de frutos do mar do Japão. A medida ocorreu meses depois de Pequim ter revogado parcialmente uma restrição anterior, emitida em 2023. Antes disso, o mercado chinês – incluindo Hong Kong – representava mais de um quinto das exportações japonesas. A imprensa japonesa informou que autoridades em Pequim teriam dito que a decisão estava relacionada à necessidade de monitorar melhor a qualidade da água, mas dado o contexto, foi interpretada como medida retaliatória.
De acordo com o porta-voz do governo japonês, Minoru Kihara, um alto funcionário do governo Takaichi se reuniu com diplomatas em Pequim na terça, 18, para tentar amenizar a tensão, mas sem avanços iminentes. O Ministério das Relações Exteriores da China relatou ter exigido que a premiê se retratasse durante a reunião, mas Kihara descartou a possibilidade.
Em meio à crise, a embaixada do Japão em Pequim fez um alerta de segurança aos cidadãos, afirmando que devem respeitar os costumes locais enquanto estiverem em solo chinês e tomar cuidado ao interagir com locais. A orientação é que viajantes estejam atentos ao seu entorno quando estiverem ao ar livre, não fiquem sozinhos e tenham cautela extra ao acompanhar crianças.
A China, por sua vez, desaconselhou viagens ao Japão. Mais de 10 companhias aéreas chinesas, como Air China, China Eastern Airlines e China Southern Airlines, ofereceram reembolsos para voos com destino ao Japão até 31 de dezembro, enquanto a Sichuan Airlines cancelou os planos para a rota Chengdu-Sapporo até pelo menos março, de acordo com a mídia estatal.