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Venezuela revoga licença de companhias aéreas que suspenderam voos após alerta dos EUA

A Venezuela revogou nesta quinta-feira, 27, os direitos de operação de seis grandes companhias aéreas internacionais após não terem cumprido o prazo de 48 horas para retomarem os voos no país. A decisão das empresas de não sobrevoar o território venezuelano segue uma orientação da Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos, emitida na semana passada, para que os aviões evitassem a rota devido ao “agravamento da situação de segurança e ao aumento da atividade militar dentro e nos arredores” do país caribenho.

Em comunicado, Caracas afirmou que as companhias aéreas “se uniram às ações de terrorismo de Estado promovidas pelos Estados Unidos” ao suspenderem “unilateralmente” os voos comerciais. Entre as banidas, estão Iberia, TAP, Avianca, Latam Colombia, Turkish Airlines e Gol. Em contrapartida, embora também tenham interrompido voos,  Air Europa e a Plus Ultra continuam com as suas licenças. As companhias internacionais Copa e Wingo, por sua vez, continuam operando na Venezuela, além das operadoras domésticas.

A movimentação ocorre em meio à escalada das tensões entre Washington e Caracas, reflexo do envio de tropas americanas para o Caribe e Pacífico em suposto cerco ao narcotráfico. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta terça-feira, 25, que apelará para o “jeito difícil” com a Venezuela caso necessário. A bordo do Air Force One, ele também sinalizou que há espaço para diálogo — como fez nas últimas semanas, embora também tenha analisado planos militares contra o regime chavista, incluindo ataques por terra.

“Se pudermos salvar vidas, se pudermos resolver as coisas do jeito fácil, seria bom. E se tivermos que fazer isso do jeito difícil, tudo bem, também”, respondeu o republicano após ser questionado se estava disposto a conversar com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

Um dia antes, o portal de notícias americano Axios informou que Trump planeja conversar diretamente Maduro por telefone. A ligação aconteceria depois do Pentágono ter designado o Cartel de los Soles, que seria chefiado pelo líder chavista, como uma organização terrorista. Ainda não há data para o telefonema, que está “em fase de planejamento”, disse um funcionário do governo americano ao Axios.

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Organização terrorista

A decisão da Casa Branca de rotular o Cartel de los Soles como terrorista “traz uma série de novas opções para os Estados Unidos”, disse o secretário de Defesa, Pete Hegseth, na semana passada. Trump também afirmou que a designação daria sinal verde ao governo para atacar bens e infraestruturas de Maduro. Dois funcionários americanos confirmaram à Reuters que Caracas e Washington conversaram nos últimos tempos, mas não há informações sobre em que pé estão as negociações.

Há poucas semanas, militares americanos de alto escalão apresentaram opções de operações contra Caracas a Trump. O secretário de Defesa, Pete Hegseth, o chefe do Estado-Maior Conjunto, Dan Caine, e outros oficiais entregaram planos atualizados, que incluíam ataques por terra. Segundo a emissora CBS News, a comunidade de Inteligência dos EUA contribuiu com o fornecimento de informações para as possíveis ofensivas na Venezuela, que variam em intensidade.

O planejamento militar ocorre em meio à crescente mobilização militar americana na América Latina e ao aumento das expectativas de uma possível ampliação das operações na região, em atos considerados como “execuções extrajudiciais” pela Organização das Nações Unidas (ONU). Além do porta-aviões, destróieres com mísseis guiados, caças F-35, um submarino nuclear e cerca de 6.500 soldados foram despachados para o Caribe, enquanto Trump intensifica o jogo de quem pisca primeiro com o governo venezuelano.

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Tensão no Caribe

No final de outubro, o líder americano revelou que havia autorizado a CIA a conduzir operações secretas dentro da Venezuela, aumentando as especulações em Caracas de que Washington quer derrubar Maduro. Fontes próximas à Casa Branca afirmam que o Pentágono apresentou a Trump diferentes opções, incluindo ataques a instalações militares venezuelanas — como pistas de pouso — sob a justificativa de vínculos entre setores das Forças Armadas e o narcotráfico.

Os EUA acusam Maduro de liderar o Cartel de los Soles e oferecem uma recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à captura do chefe do regime chavista. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, também foi acusado por Trump de ser “líder do tráfico de drogas” e “bandido”. Em paralelo, intensificam-se os ataques a barcos de Organizações Terroristas Designadas, como define o governo americano, no Caribe e Pacífico. Até o momento, foram 21 bombardeios, que resultaram em 80 mortes.

Os incidentes geraram alarme entre alguns juristas e legisladores democratas, que denunciaram os casos como violações do direito internacional. Em contrapartida, Trump argumentou que os EUA já estão envolvidos em uma guerra com grupos narcoterroristas da Venezuela, o que torna os ataques legítimos. Autoridades afirmaram ainda que disparos letais são necessários porque ações tradicionais para prender os tripulantes e apreender as cargas ilícitas falharam em conter o fluxo de narcóticos em direção ao país.

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Dados das Nações Unidas enfraquecem o discurso de caça às drogas. O Relatório Mundial sobre Drogas de 2025 indica que o fentanil — principal responsável pelas overdoses nos EUA — tem origem no México, e não na Venezuela, que praticamente não participa da produção ou do contrabando do opioide para o país. O documento também aponta que as drogas mais usadas pelos americanos não têm origem na Venezuela — a cocaína, por exemplo, é consumida por cerca de 2% da população e vem majoritariamente de Colômbia, Bolívia e Peru.

Uma pesquisa Reuters/Ipsos divulgada na última sexta-feira, 14, revelou que apenas 29% dos americanos apoiam o uso das Forças Armadas dos Estados Unidos para matar suspeitos de narcotráfico, sem o devido processo judicial, uma crítica às ações de Trump. Em um sinal de divisão entre os apoiadores do presidente, 27% dos republicanos entrevistados se opuseram à prática, enquanto 58% a apoiaram e o restante não tinha opinião formada. No Partido Democrata, cerca de 75% dos eleitores são contra as operações, e 10% a favor.

 

 

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