A revista britânica The Economist disse nesta quarta-feira, 26, que a direita brasileira está fragmentada devido à prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro e que, como consequência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sai como “maior beneficiário”. Na véspera, Bolsonaro começou a cumprir a pena de 27 anos e três meses na Superintendência da Polícia Federal (PF), em Brasília, por crimes relacionados à trama golpista — entre eles, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e organização criminosa armada.
“A prisão do Sr. Bolsonaro marca o fim de sua longa saída da política. Em 2023, ele foi impedido de ocupar cargos públicos por oito anos por abuso de poder e por usar a mídia estatal para disseminar informações falsas sobre as urnas eletrônicas”, afirmou o texto.
“Mesmo assim, insistiu em concorrer. Outros candidatos de direita, ansiosos para disputar as eleições gerais do ano que vem, em outubro, ficaram à sua sombra. A menos de um ano das eleições, a direita brasileira não tem um líder claro. As disputas internas entre os potenciais candidatos estão aumentando”, acrescentou.
A reportagem relembrou que o “cenário era bem diferente há poucos meses”, quando os índices de aprovação de Lula estavam “em queda livre”. A sensação de grande parte da população, segundo a The Economist, era de que o petista “dedicava muito tempo a viagens internacionais e pouco tempo a questões essenciais do cotidiano”.
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Trump ‘parece ter esquecido Bolsonaro’
O veículo apontou, contudo, que “a própria família do Sr. Bolsonaro é responsável pela reviravolta na sorte da direita”, citando a ida de Eduardo Bolsonaro aos Estados Unidos e a consequente aplicação de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros pela “caça às bruxas” — como definiu o presidente americano, Donald Trump, no anúncio — ao ex-presidente pelo governo Lula e pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
“Enquanto Lula chamava a família Bolsonaro de ‘traidores da pátria’, os ambiciosos direitistas se viam em uma situação delicada. Eles se esforçavam para se dissociar das impopulares tarifas, mas queriam demonstrar apoio a Bolsonaro: qualquer candidato de direita precisa de sua bênção para ser competitivo nas eleições. Para piorar a situação, em 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil, milhares de apoiadores de Bolsonaro marcharam por São Paulo sob uma gigantesca bandeira americana”, relembrou.
Em paralelo, a direita tentava responsabilizar Lula pela incapacidade de negociar pelo fim das taxas americana, mas “essa narrativa logo se desfez, à medida que Trump e Lula se aproximaram”. A matéria citou o encontro entre o petista e o republicano na Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro, quando o líder americano disse que os dois tiveram uma “excelente química”. Mais tarde, Trump recuou nas tarifas em uma gama de produtos. “Ele parece ter praticamente esquecido Bolsonaro”, afirmou a The Economist.
A reportagem indicou que a direita está “perdendo terreno em questões de soberania, tarifas e impostos”. Com isso, começou a mirar no “ponto fraco de Lula: a segurança”. O texto mencionou a megaoperação no Rio de Janeiro, que resultou na morte de 130 pessoas, e apontou que a sugestão do líder brasileiro de que os traficantes eram vítimas dos usuários de drogas “gerou indignação”. A The Economist também afirmou que possíveis candidatos conservadores — substitutos de Bolsonaro — têm apostado em retóricas semelhantes ao do presidente de El Salvador, Nayib Bukele, amigo de Trump e alvo de críticas de organizações internacionais por violar direitos humanos.
“Muita coisa ainda pode dar errado para Lula. A maioria dos brasileiros acha que o político de 80 anos não deveria se candidatar novamente. Sua reforma do imposto de renda pode aumentar a inflação ao impulsionar o consumo. Se a segurança pública piorar, ele poderá parecer leniente com o crime. Romeu Zema, outro pré-candidato à presidência e governador de Minas Gerais, afirma que a esquerda “depende totalmente de Lula”, enquanto a acirrada competição na direita “prova que ela é melhor em formar bons líderes”. A longo prazo, isso pode ser verdade. Mas, por enquanto, o maior beneficiário do legado caótico de Bolsonaro é Lula”, concluiu.