Havia uma alcova de infância dentro de cada bolso: um bichinho de pano, um pequeno talismã, um amuleto da sorte. Quando o Labubu apareceu — criatura de traços esquisitos, meio travesso, meio confortante — não inventou o hábito de pendurar afetos; apenas lembrou ao mundo adulto que existia, e que pode ser de diversas formas – de brinquedos às joias, desde que promovam esse sentimento de pedaços de memória visível.
Embora os Labubus (e os genéricos wakukus e tribufus) tenham ganhado força com a febre, é fato que os charms já existiam — e, de certa forma, foram eles que inspiraram o nascimento dessa cultura do miniobjeto simbólico suspenso em algum lugar. Afinal de contas, desde sempre, pendurar algo que representa um sentimento, um desejo ou uma lembrança é um gesto quase universal.
Mas vamos aos charms. Pequenos pendentes que, há séculos, ornamentam pulseiras, colares e objetos pessoais, já apareciam no Egito Antigo como amuletos de proteção. Na Idade Média, eram símbolos de fé e poder; e nas décadas de 1950 e 1960, viraram acessórios sentimentais, pendurados em pulseiras que contavam histórias.
Hoje, voltam sob esse nome “charms”, mas como força de expressão e identidade, em uma tendência de moda que mistura o pop e o luxo. A precursora desse movimento foi a joalheria dinamarquesa Pandora, que transformou o charme do pingente em joia de desejo — suas pulseiras modulares criaram uma nova categoria de consumo, em que cada peça é escolhida a dedo, muitas vezes para marcar momentos da vida. Marca que fatura bilhões por ano e que mais vende joias no mundo (graças justamente aos “charms”), consolidou um sistema de personalização que conquistou mulheres de todas as idades, e celebridades da jovem Tyla à Pamela Anderson.
No Brasil, a Vivara seguiu o mesmo caminho, aproximando a tradição da joalheria da linguagem contemporânea da customização. Suas coleções de charms em ouro e prata tratam cada pingente como uma pequena joia com significado — sejam símbolos do zodíaco, iniciais ou referências espirituais. Já a Cuff, com design mais moderninho, mostrando que penduricalhos também podem ser semijoias confortáveis e acessíveis.
Os “bag charms”
Enquanto as joalherias sofisticam o conceito, o outro braço da tendência se espalha pelas bolsas de grife. Os chamados “bag charms” vieram como acessórios de destaque — pendurados nas alças de Chloé, Bottega Veneta, Versace e Fendi, ou acompanhando mascotes e brinquedos de artistas colecionáveis. Os desfiles de verão 2026, em Paris, Milão e Nova York, confirmaram o movimento: nas passarelas, pingentes e miniobjetos aparecem presos a bolsas, cintos e colares, com o mesmo valor ornamental de uma joia.
O que chama a atenção, porém, é a estética lúdica dos charms que conversa com a necessidade de expressão individual e com o resgate do sentimentalismo, em tempos em que a moda busca reconexão com o que é realmente pessoal. Como mostram celebridades como Dua Lipa, Kylie Jenner e Gigi Hadid, não existem regras fixas para incorporá-los ao look: podem acompanhar bolsas, mochilas, carteiras e até tênis ou cases de smartphone. O que importa é que reflitam personalidade, memórias ou referências culturais. A tendência permite ainda combinações ousadas, misturando cores, materiais e estilos diferentes para criar um visual impactante.
Do brinquedo ao luxo
A febre do Labubu pode ter dado o empurrão final (Lady Gaga que o diga – é fã), mas o fascínio por pequenos penduricalhos é muito mais antigo — e agora, mais valioso. Em uma era em que tudo é customizável e colecionável, os charms representam uma forma tangível de traduzir quem somos. Cada pingente é uma narrativa, um marcador de experiências, uma memória que se transforma em estética. O que começou com brinquedos virou fetiche fashion; o que era bijuteria virou joia. E essa mistura de linguagens — entre o pop e o precioso — é o que faz dos charms uma febre transversal, do pulso às passarelas.
Talvez o encanto dos charms resida justamente aí: na capacidade de transformar um pequeno objeto em símbolo de afeto e estilo. Como incensos de memória, eles balançam discretos, mas cheios de significado. Pendurados nas bolsas, nos pulsos ou em colares, lembram que o luxo contemporâneo se mede também em detalhes — e que, no fim, penduramos sobre nós mesmos aquilo que queremos contar.
Veja alguns looks de charms em joias e “bag charms” para se inspirar:










