Um grupo de oncologistas, especialistas em saúde pública e cientistas de dados se reuniram em uma coalizão com o objetivo de melhorar a jornada do paciente com câncer de mama no Sistema Único de Saúde (SUS). Esse encontro rendeu a nova plataforma Prisma, lançada nesta segunda-feira, 16, com a proposta de monitorar os dados de todas as etapas de cuidado de forma contínua e ajudar a mapear os gargalos que impactam o tratamento na rede pública para melhorar o atendimento.
A reportagem de VEJA navegou na plataforma com exclusividade antes do lançamento. Com ela, é possível ver dados de rastreamento de casos da doença, diagnóstico, tratamentos e indicadores de desfechos, como óbitos. As informações catalogadas são obtidas a partir de diferentes bases do DataSUS, do Ministério da Saúde.
O diferencial é que as referências estão reunidas na mesma plataforma. Assim, não é preciso abrir várias páginas para consultar os números ligados a cada estágio do acompanhamento das pacientes. O acesso é gratuito e os filtros permitem consultar informações por estado, município, subtipo de câncer de mama e estadiamento.
Jornada de cada paciente
“A ideia da plataforma é mapear o caminho que a pessoa com câncer de mama tem ao longo do sistema. Os dados que temos não são focados no paciente, mas em informações administrativas”, explica um dos membros da coalizão, o ex-ministro da Saúde Nelson Teich. “A gente precisa saber o que está acontecendo com as pessoas. Precisa migrar de um dado de procedimento para o de cuidado”, completa.
Segundo Teich, com essa proposta, é possível ter a compreensão exata do que ocorre ao longo da jornada de cada pessoa que trata o câncer de mama e não apenas um compilado de procedimentos: “Se fez mamografia, se fez quimioterapia neoadjuvante, cirurgia, se foi para o paliativo”.

E ainda compreender problemas do sistema público. “Outro ponto é identificar onde tem de melhorar a qualidade da informação e entender por que o resultado da saúde suplementar é melhor do que o do SUS. Há muitas leis, portarias e, quando vai ver, são perfeitos no papel e não funcionam na prática.”
O ex-ministro diz que a ferramenta poderá ser utilizada por gestores públicos, pesquisadores, médicos e associações de pacientes.
“Queremos ajudar órgãos sociais a entender o que está acontecendo e dar uma ferramenta com dados públicos e abertos para as organizações que influenciam os caminhos da saúde.”
Futuro da plataforma
De acordo com Teich, a plataforma será aprimorada de forma contínua e, no futuro, poderá até ser ampliada. “A oncologia é tão complexa e tão ampla, vai do diagnóstico ao paliativo. Então, esperamos que se expanda para outros tumores e outras doenças, porque ela abre a possibilidade de ter uma discussão mais ampla.”
Além do ex-ministro, integram a coalizão a oncologista clínica Laura Testa; Maira Caleffi, mastologista e presidente do Instituto de Governança e Controle do Câncer (IGCC); André Pinto, cientista de dados do Hospital de Amor de Barretos; Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia; Marco Bego, diretor-executivo do InovaHC da FMUSP; Vinícius Cordovani, supervisor do faturamento de uma unidade hospitalar de alta complexidade de São Paulo; André Santos, farmacêutico e bioquímico e líder de produtos na deep tech Semantix; e Anna Buehler representante da Novartis Brasil.