Um brilho sutil, mas persistente, apareceu nos registros do telescópio Fermi, que há mais de uma década monitora radiação de alta energia emitida pela nossa galáxia. O sinal surge como uma espécie de “névoa” luminosa que contorna a região central da Via Láctea e que não se encaixa nas fontes já catalogadas de radiação intensa.
Normalmente, esse tipo de radiação é produzido por estrelas muito energéticas, jatos de gás aquecido ou remanescentes de explosões antigas. Desta vez, porém, os padrões não coincidem com nenhum desses fenômenos. A luz apresenta uma energia característica, mais alta do que o esperado, e aparece justamente no formato de um halo esférico, estrutura que coincide com o que modelos teóricos sugerem para o chamado “halo de matéria escura” da galáxia.
A matéria escura é uma forma invisível de massa que não emite luz, mas influencia o movimento das estrelas. Sabemos que ela existe porque sua gravidade mantém as galáxias unidas, mas nenhum experimento conseguiu detectá-la diretamente.
Uma das hipóteses mais estudadas propõe que essa matéria seja composta por partículas que, ocasionalmente, se chocam e se destroem, liberando radiação muito energética. Se isso ocorrer, o resultado seria justamente um brilho difuso, difícil de detectar, mas possível de identificar com instrumentos sensíveis.
O novo estudo aponta que o brilho encontrado tem energia compatível com esse tipo de fenômeno e aparece na forma prevista para um halo de matéria escura. A análise também eliminou fontes conhecidas de radiação, reforçando a ideia de que algo diferente está acontecendo ali.
Teríamos encontrado a matéria escura?
Embora o achado seja promissor, ainda está longe de ser conclusivo. A região central da Via Láctea é complexa e difícil de modelar, com inúmeros processos concorrendo para produzir radiação. Um erro pequeno na estimativa desses fenômenos pode criar a impressão de um sinal novo.
A confirmação depende de análises independentes, testes com outros métodos e, sobretudo, da verificação do mesmo padrão luminoso em outros ambientes, como galáxias menores, onde a leitura é mais limpa. É um trabalho demorado e que exige cautela.
Se o brilho tiver realmente origem na matéria escura, seria a primeira evidência direta desse componente invisível que responde pela maior parte da massa do universo. Isso abriria caminho para entender como galáxias se formam, quais partículas compõem essa substância misteriosa e, possivelmente, para revisar pilares importantes da física atual.