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Banho de realidade, Trump paz e amor, mas até quando?

Depois de quase 11 meses marcados por conflitos verbais, ameaças tarifárias e choques diplomáticos, tom estridente, Donald Trump vem surpreendendo investidores ao adotar, nos últimos dias, um tom moderado. Para Rodrigo Moliterno, sócio e head de renda variável da Veedha Investimentos, esse novo comportamento — apelidado por ele de “Trump paz e amor” — tem sido decisivo para reduzir a volatilidade global. Em vez de ataques à China, à Rússia ou a parceiros comerciais, o republicano exibiu bom humor até em eventos protocolares, como o tradicional “perdão ao peru”, e tem evitado elevar tensões geopolíticas. O evento que existe há 78 anos consiste em “salvar” as aves da panela às vésperas do thanksgiving, o feriado de ação de graças nos Estados Unidos.

Segundo Moliterno, a trégua também passa por pragmatismo. A inflação americana segue pressionada, e parte dos insumos consumidos pelos EUA — como café e carne — depende fortemente de exportadores como o Brasil. Na avaliação do economista, o esfriamento nos embates tarifários e diplomáticos reflete um cálculo político: com a popularidade em queda para a casa dos 38%, Trump sentiu a reação do “chão de fábrica”, especialmente às portas das festas de fim de ano, quando o custo de vida pesa mais.

E esse banho de realidade ajuda o Brasil. Em um evento da Amchan (Câmara de Comércio Americana), em São Paulo, nesta terça-feira, o presidente da república em exercício, Geraldo Alckmin, mostrou confiança aos participantes sobre o tarifaço americano. Alckmin acredita na redução das tarifas e até mesmo na exclusão de mais produtos “é diálogo e negociação”, resumiu. Essa possível nova redução somada ao recuo em ameaças comerciais, deve trazer alívio mais robusto aos mercados. “Quando Trump deixa de ir para o embate, os ativos respiram”, diz Moliterno. O economista reforça, porém, que ainda não se trata de um reposicionamento estrutural, e sim de um ajuste tático motivado pelo desgaste político.

Mesmo episódios potencialmente explosivos, como o vazamento de áudios revelados pela agência de notícias Bloomberg envolvendo o negociador americano Steve Witkoff e interlocutores russos, receberam de Trump uma resposta inusitadamente tranquila. Ao ser questionado por jornalistas sobre a suposta orientação indevida aos russos nas conversas para um acordo de paz com a Ucrânia, o presidente americano minimizou o caso com ironia — sinal, segundo Moliterno, de que a estratégia de não criar novos focos de crise segue firme.

A dúvida que resta, para o mercado e para aliados internacionais, é a durabilidade desse figurino mais brando. Se o “Trump paz e amor” resistirá à agenda eleitoral, às pressões internas e às próximas rodadas de negociação comercial com a China, ninguém arrisca prever. Mas, por ora, o cenário global parece ter encontrado um raro momento de calma — e o investidor agradece.

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