Tem gente que adora um ditado popular — e, se há um que cai como uma luva para o momento político do Brasil, é “esmola com o chapéu alheio”. Serve, por exemplo, para descrever a aprovação no Senado do projeto de lei complementar que concede aposentadoria especial a agentes de saúde e agora segue para a Câmara. A União projeta um rombo de até 40 bilhões de reais em dez anos; a Confederação Nacional dos Municípios fala em mais de 103 bilhões para prefeituras que têm regime próprio de previdência.
A chamada pauta bomba teria potencial de terra arrasada na economia — mas quer saber? O mercado financeiro simplesmente ignorou. Nem os episódios envolvendo a ala condenada pela trama golpista mexeram com o humor dos investidores. Analistas disseram ao Programa Mercado, da VEJA, que o destino do ex-presidente Jair Bolsonaro já não tinha qualquer peso na precificação dos ativos. A dúvida, então, é inevitável: para onde os agentes estão olhando?
O título desta matéria já entrega a pista. A expressão “é a economia, estúpido” — celebrizada na campanha de Bill Clinton em 1992 — continua atualíssima. O que realmente move o jogo global, e rouba a atenção por aqui, são os próximos passos do Federal Reserve sobre juros na reunião de dezembro. Os títulos do Tesouro americano seguem como bússola do mercado mundial e, por contágio, ditam o ritmo da bolsa brasileira, da curva de juros e até da próxima decisão da Selic.