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Salão do Automóvel muda de cara e dono: mais tecnológica e asiática

Depois de sete anos, o Salão do Automóvel retorna. Menor, mais pragmático e tomado por marcas chinesas que tratam o Brasil como um mercado em aberta temporada de caça. Os últimos anos foram suficientes para virar o mapa do setor automotivo brasileiro. O Salão do Automóvel, reaberto após um hiato que parecia definitivo, retornou na sua 31ª edição, mas sob uma lógica inteiramente nova. O que antes era uma vitrine de luxo, protótipos futuristas e promessas vaporosas de eletrificação se tornou um evento mais enxuto, com produtos mais concretos e, sobretudo, dominado pela China.

Quem percorre os corredores do pavilhão vê com clareza o novo arranjo de forças. Nove montadoras chinesas, sem contar a joint venture CAOA Chery, disputam cada metro quadrado do espaço, enquanto dez marcas tradicionais, aquelas conhecidas do público e que estão há anos no mercado brasileiro, exibem seus modelos como quem tenta manter terreno conhecido.

O que falta chama tanta atenção quanto o que está presente: ausências pesadas como Volkswagen, GM e BMW escancaram um salão menos estrelado, porém mais concreto. Em nota, a Volkswagen afirmou que “a decisão da não participação está alinhada à estratégia global da marca. Desta forma, a VW está presente em eventos como o Circuito Sertanejo e festivais como Rock in Rio, The Town e C6 Fest, além de promover eventos proprietários como o Volks Festival, realizado ao longo do ano nas principais capitais do País”. Até o horário de publicação desta reportagem, a GM ainda não havia enviado um esclarecimento sobre a ausência no evento.

Em vez de conceitos de ficção científica, desta vez há produtos que realmente chegarão às ruas. O visitante já pode encomendar um elétrico e recebê-lo em poucos meses, algo impensável na última edição, em 2018, quando a mobilidade elétrica era tratada como um horizonte distante. O salão tornou-se mais tecnológico, menos aspiracional: “hoje a indústria é mais sobre tecnologia do que sobre rodas”, como resumiu Márcio Calvet, presidente da Anfavea.

Se as tradicionais se retraem, as chinesas avançam com voracidade. O Grupo Geely, que adquiriu 26,4% da operação da Renault no Brasil, estreia no país mirando a disputa direta com a BYD: elétricos populares na casa dos R$ 100 mil, produzidos localmente, com design moderno e eletrônica abundante, a fórmula que vem reescrevendo a competição global. A Stellantis, percebendo a mudança de maré, selou parceria com a chinesa Leapmotor para produzir elétricos no país, um movimento que seria impensável há poucos anos para o maior conglomerado automotivo da região. Já a Chery, que no Brasil opera com a CAOA, amplia seu portfólio com duas novas marcas: CAOA Changan, de elétricos de luxo, e Omoda Jaecoo, focada em SUVs híbridos e elétricos de médio e alto padrão.

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Nos bastidores, um executivo definiu o evento como “um salão oriental” – diagnóstico preciso: além das chinesas, quase todas as grandes marcas presentes são japonesas ou coreanas. A Europa, desta vez, ficou nas sombras.

O renascimento do salão não foi espontâneo. O presidente Lula foi um dos principais incentivadores, cobrando das montadoras maior exposição ao consumidor. “Vocês reclamam do mercado, mas não fazem o salão, que é a maior vitrine do setor”, teria dito em uma reunião com as montadoras, segundo uma fonte envolvida. O presidente fez questão de inaugurar pessoalmente a mostra antes de embarcar para uma agenda internacional, na África.

O gesto não é simbólico: sob o guarda-chuva do Mover, programa federal de estímulo à modernização automotiva, as montadoras assumiram compromissos de R$ 140 bilhões em investimentos até 2033, o maior pacote em duas décadas. Os aportes se concentram em eletrificação, segurança veicular, pesquisa e desenvolvimento e novas plataformas produtivas. Em seu discurso, Lula celebrou o ciclo: “Nunca tivemos tanto investimento direto neste país como temos agora”.

O público parece aprovar a nova fase. Mais de 200 mil visitantes passaram pelos portões desde a abertura em 22 de novembro, número suficiente para que a Anfavea confirmasse a próxima edição para 2027. O novo salão não tem a pompa do passado, tampouco o excesso de promessas. Mas talvez por isso mesmo represente melhor o setor automotivo de 2025: competitivo, globalizado, tecnológico, e com a China disputando, sem constrangimento algum, o papel de protagonista.

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