As Forças de Defesa de Israel (FDI) abriram fogo nesta segunda-feira, 16, perto de um posto de distribuição de ajuda da Fundação Humanitária de Gaza (GHF, na sigla em inglês) em Rafah, cidade ao sul da Faixa de Gaza. Ao menos 50 palestinos foram mortos. Trata-se do episódio mais recente em que militares israelenses disparam nos arredores de centros humanitários enquanto a população, em níveis “críticos” de fome, tenta conseguir alimentos.
O hospital de campanha da Cruz Vermelha em Gaza recebeu 200 pacientes, o número mais alto vítimas de ataques relacionados a operações da GHF. Com o bloqueio israelense, a tarefa de entregar suprimentos aos mais de 2,3 milhões de palestinos caiu nas mãos da Fundação Humanitária de Gaza, um grupo privado americano apoiado pelos Estados Unidos e por Israel, mas criticado pelas Nações Unidas e por outras organizações por utilizar seguranças armados e pela ineficácia.
Ainda no início do mês, pelo menos 27 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas por tiros disparados pelas tropas de Israel próximos ao local de distribuição de alimentos da GHF em Rafah. Um dia depois, suspendeu as atividades após cenas de despreparo e violência, com vídeos de palestinos famintos e desesperados tentando fugir dos tiros. Na ocasião, o grupo reiterou que sua “maior prioridade continua sendo garantir a segurança e a dignidade dos civis que recebem ajuda”, apesar de não dar ouvidos à ONU.
As cenas de despreparo, no entanto, já se mostravam no primeiro dia de distribuição de ajuda, em 26 de maio, quando as FDI atiraram perto de multidão de palestinos após a GHF perder controle do posto em Rafah, dando início a um tumulto. Sob críticas, a fundação afirmou que a decisão de abandonar o local “foi tomada de acordo com o protocolo”, com o objetivo de “evitar baixas”. O exército israelense, por sua vez, alegou que disparou “tiros de advertência” perto do complexo para retomar o controle.
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Fome e insegurança alimentar
A população da Faixa de Gaza, composta por 2,3 milhões de pessoas antes da guerra, está em “risco crítico” de fome e enfrenta “níveis extremos de insegurança alimentar”, apontou um relatório da Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC), apoiada por agências das Nações Unidas, grupos de ajuda e governos.
O documento indicou que o cessar-fogo, que durou de janeiro a março, “levou a um alívio temporário” em Gaza, mas as novas hostilidades israelenses “reverteram” as melhorias. Cerca de 1,95 milhão de pessoas, ou 93% da população de Gaza, vivem níveis de insegurança alimentar aguda. Desse número, mais de 244 mil enfrentam graus “catastróficos”. A fome generalizada, segundo a pesquisa, é “cada vez mais provável” no território. No momento, meio milhão de palestinos, um em cada cinco, estão famintos em Gaza.