Uma das maiores esperanças de ampliar o tratamento do Alzheimer, a semaglutida, princípio ativo de Ozempic, Wegovy e Rybelsus, não foi bem-sucedida no primeiro estudo a avaliar seu efeito em pacientes com comprometimento cognitivo e fases iniciais da doença neurodegenerativa.
A Novo Nordisk anunciou, de forma preliminar, os resultados dos ensaios clínicos que avaliaram objetivamente o potencial de comprimidos de semaglutida (na formulação do Rybelsus) diante da principal causa de demência da atualidade. Não houve “redução estatisticamente significativa na progressão da doença”, segundo comunicado da farmacêutica dinamarquesa.
Os dados, que serão apresentados na íntegra na próxima conferência internacional focada em Alzheimer, foram parcialmente apresentados pelo laboratório. A segurança e eficácia da semaglutida via oral, hoje aprovada para o controle do diabetes, foram analisadas em duas pesquisas com um total de 3 808 pacientes – a medicação foi comparada com o placebo, cápsulas sem princípio ativo de fato.
A Novo Nordisk apostava nessa nova indicação da droga após constatar, tanto em evidências de mundo real como em testes laboratoriais, que o análogo de GLP-1 teria um impacto neuroprotetor. Uma das hipóteses é que ele poderia resguardar os neurônios do Alzheimer contendo a inflamação no cérebro.
“Embora o tratamento com semaglutida tenha resultado em melhora dos biomarcadores relacionados à doença de Alzheimer em ambos os ensaios clínicos, isso não se traduziu em retardo da progressão da doença”, afirmou a empresa em comunicado público.
A semaglutida em comprimido, administrada a pacientes de 55 a 85 anos, demonstrou bom perfil de segurança e tolerabilidade. No entanto, a eficácia abaixo do esperado fez com que o fabricante anunciasse a descontinuação das pesquisas com o Rybelsus para o Alzheimer.
Outras formulações, isoladas ou junto a outros tratamentos, contudo, podem ser testadas futuramente.
“Temos orgulho de ter conduzido dois ensaios bem controlados, que atendem aos mais altos padrões e metodologia rigorosa”, disse Martin Holst Lange, diretor científico e vice-presidente executivo de Pesquisa e Desenvolvimento da Novo Nordisk. “E agradecemos sinceramente a todos os participantes e seus cuidadores por suas valiosas contribuições.”
Apesar da notícia frustrante, que repercutiu nas ações da empresa dinamarquesa na bolsa, é assim que a ciência caminha. Testando, descartando o que não é seguro ou não funciona direito e promovendo e levando à sociedade aquilo que passou nas provas.