Maior colégio eleitoral do interior do Rio de Janeiro, Campos dos Goytacazes virou centro nervoso da política fluminense com a ascensão de Rodrigo Bacellar (União Brasil), que nesta segunda-feira, 16, voltou à sua terra natal, pela primeira vez, como governador interino. O município do Norte Fluminense é palco de uma briga histórica entre as famílias Garotinho e Bacellar, que ganhou novos contornos com a campanha antecipada para o governo do estado. Sondado como possível vice de Eduardo Paes (PSD) na corrida, o prefeito do município, Wladimir Garotinho (PP), aumentou nos últimos dias a artilharia contra o político do União, que deixou a presidência da Alerj para iniciar uma temporada estratégica na cadeira de Cláudio Castro (PL).
Trabalhando intensamente para suceder o político do PL, Bacellar escolheu Campos como palco da sua primeira agenda oficial no posto. Hoje, ele chegou de helicóptero à cidade, onde inaugurou, com pompa e cercado de políticos, a obra de um novo destacamento do Corpo de Bombeiros e lançou a “pedra fundamental” de uma nova policlínica da PM. Outro compromisso foi um encontro com gestores de hospitais de Campos. Apesar do clima político acirrado na região, Bacellar desconversou: “Estou entregando, como governador em exercício, demandas que me comprometi lá atrás. Ouvindo, andando e dialogando no interior. A população espera isso de nós. Ninguém agora quer saber de eleição. Isso é lá na frente”.
“Não vou ficar brigando com o prefeito”
A presença de Bacellar na cidade como governador tem um simbolismo, já que Campos também é a terra dos ex-governadores Anthony e Rosinha Garotinho. Desde domingo, Wladimir, filho do casal, faz postagens atacando o adversário, sendo que, curiosamente, os dois fazem parte da mesma federação, a União Progressista (PP e União Brasil). Um dia após acusar Bacellar de asfixiar a Saúde de Campos, o prefeito voltou a disparar num vídeo: “O que eu disse é que não vem mais (recursos). E não vem mais coincidentemente desde o momento em que um outro campista assumiu a presidência da Assembleia Legislativa e vem tentando prejudicar o meu governo, mas consequentemente prejudicando a população da cidade de Campos, que também é a cidade dele”. O prefeito ainda afirmou, em tom de desafio: “Não quero briga, não, deputado. Você colocou hoje mais uma vez a turma que você segura na coleira, que você dá ração, para me atacar, falar besteira. Eu já disse que não tenho medo de vocês”.
Bacellar rebateu os ataques dizendo estar “aberto ao diálogo. “Nossa vitória unânime na Alerj mostrou que é possível conversar com todas as correntes políticas. Não vou ficar aqui brigando com o prefeito”, ressaltou ele, afirmando que o governo do estado repassou “mais de R$ 450 milhões para a Saúde de Campos”. “Conheço o prefeito desde a nossa juventude. E sei que aquele rapaz que eu conheci lá atrás vai saber dialogar. Sem birra, sem picuinhas”, completou.
Paes se aproveita de rixa
Nos bastidores, Paes se aproveita da rixa local para atrair Wladimir, que deve desembarcar do PP. Os dois se encontraram pelo menos duas vezes recentemente. A vaga de vice numa chapa encabeçada pelo PSD estaria nos sonhos do filho de Garotinho, mas já foi oferecida também a outros políticos de fora da capital. Até pela relação de inimizade entre Paes e o ex-governador Garotinho, a composição com os dois é vista como pouco provável no meio da política fluminense. “Como Paes explicaria ao eleitorado da capital um Garotinho de vice?”, questiona um político do interior, reforçando também o perfil conservador do eleitorado de Campos, que poderia estranhar Wladimir de vice do aliado de Lula (PT).
O grupo de Paes, que é favorito na corrida ao Palácio Guanabara, segundo a Paraná Pesquisas, tenta furar a bolha dos prefeitos destado. Na última eleição, cerca de 80% dos eleitos tiveram o apoio de Castro. Campos é un dos alvos principais de Paes, junto com São Gonçalo, pelo tamanho do eleitorado e pela influência que exerce politicamente nas regiões Norte e Noroeste.
