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A difícil travessia do mercado imobiliário na era dos juros altos

O tão temido “tarifaço” de Donald Trump, que havia provocado semanas de apreensão e movimentos defensivos no mercado brasileiro em diversos setores, finalmente se dissipou. A reversão do pacote de sobretaxas trouxe um alívio imediato a diversos setores, especialmente aqueles mais sensíveis a custos de importação e à volatilidade internacional. O mercado imobiliário brasileiro, que acompanhou a movimentação com atenção redobrada, respira com um pouco mais de tranquilidade diante da redução desse risco externo que poderia pressionar desde insumos básicos da construção até a confiança dos investidores.

Mas o fim do tarifaço não resolve o principal nó do setor: as dificuldades domésticas continuam impondo limites ao ritmo de crescimento. O mercado imobiliário segue tentando fechar o ano enfrentando uma Selic ainda elevada, o que se traduz em crédito mais caro, menos previsibilidade e maior seletividade na tomada de decisão tanto para empresas quanto para as famílias. O financiamento imobiliário, que costuma ser o motor do setor, permanece oneroso e afasta boa parte dos potenciais compradores. Além disso, incorporadoras convivem com custo de capital alto, margens comprimidas e necessidade de ajustar lançamentos a realidades regionais cada vez mais distintas. O resultado é um movimento constante de prudência, em que cada empreendimento passa por filtros mais rígidos e cada investidor busca proteção, mesmo diante de projeções macroeconômicas mais estáveis.

Entre tantos desafios, ao menos uma notícia positiva se destaca: a ampliação do programa Minha Casa Minha Vida que começou a valer a partir de abril deste ano com a faixa 4, destinada a famílias com renda mensal entre R$ 8600,00 e R$ 12000,00. Esse programa oferece financiamento para compra de imóveis residenciais com valor até R$ 500.000,00 e juros anuais de 10,5% com prazo de pagamento de até 420 meses. A faixa 4 foi criada para atender, principalmente, a classe média e expandir acesso à habilitação no Brasil. A reformulação recente devolve dinamismo ao segmento habitacional de baixa renda, que segue sendo o mais volumoso e estrutural do país. A expansão do programa permite que mais famílias tenham acesso a financiamentos compatíveis com sua realidade e garante às incorporadoras um horizonte de demanda mais estável em um ano marcado pela cautela.

Assim, o setor imobiliário caminha para o encerramento do ciclo anual com uma combinação complexa. O alívio externo veio, mas não basta. A travessia permanece condicionada a uma política monetária mais branda e a um ambiente de crédito menos restritivo. Até lá, o mercado opera entre obstáculos conhecidos e pequenas janelas de oportunidade, apoiado, sobretudo, pela força renovada do Minha Casa, Minha Vida. Em um cenário que ainda exige resistência e adaptação, o programa habitacional surge como a âncora que impede um desaquecimento mais profundo, enquanto o setor segue construindo alternativas para atravessar um período em que cada decisão depende, mais do que nunca, de prudência e estratégia.

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