Sucesso de crítica e de bilheteria em 2014, o filme Hoje eu quero voltar sozinho, dirigido e roteirizado por Daniel Ribeiro, prepara-se para retornar ao público em um novo formato: uma adaptação em quadrinhos. Vencedor do prêmio Teddy de melhor filme com temática LGBT no Festival de Berlim, o longa-metragem será transformado em graphic novel com lançamento previsto para maio de 2026, publicado pela Seguinte, selo jovem do Grupo Companhia das Letras. O ilustrador Bruno Freire estará presente na Comic Con Experience, em dezembro, com uma mesa no Artists’ Alley.
A história original conquistou milhares de fãs ao abordar o primeiro amor entre dois garotos, a descoberta da sexualidade e a deficiência visual do protagonista, Leo, de maneira “natural e delicada, rompendo com estereótipos”. Dez anos após a estreia do filme, a ideia de uma versão em quadrinhos surgiu inspirada pelo sucesso de outras adaptações, como Heartstopper, de Alice Oseman.
Daniel Ribeiro explica que o formato em HQ resolveu uma demanda antiga do público por uma continuação. “A ideia de fazer o quadrinho é que tinha essa possibilidade de a gente continuar contando essa história,” disse Ribeiro, permitindo que a narrativa prosseguisse sem a necessidade de reescalar os atores, que já envelheceram.

O roteiro da HQ é assinado por Ribeiro, mas a arte ficou por conta do ilustrador Bruno Freire. A escolha do artista foi motivada por sua habilidade em incorporar a representatividade LGBTQIAP+ em seu trabalho, explorando narrativas cotidianas. Ribeiro revelou ter encontrado Freire no Instagram e se identificado imediatamente com seu traço. “Eu vi o traço dele, acho que ele tinha esse componente LGBT, e tinha essa coisa meio nerd também,” comentou o diretor. “Conversava muito com o universo do Hoje eu quero voltar sozinho”.
A afinidade de Freire com a obra vai além do profissional. O ilustrador, que se descreveu como um “nerd LGBT”, é um fã declarado do filme, tendo-o assistido na estreia na mesma época em que “saiu do armário”. Para ele, o filme foi impactante por ter um personagem explicitamente gay onde o foco não era o conflito sobre sua identidade. Freire chamou o projeto de um “projeto dos sonhos” e seu “filme de conforto”.
Essa conexão profunda garantiu uma parceria de liberdade criativa. Daniel Ribeiro deu total confiança a Freire, permitindo que ele adaptasse o ritmo e a diagramação. “Eu acho que eu trouxe a história e aí eu deixei pro Bruno trazer a trazer as referências dele”, afirmou Ribeiro.

O ilustrador conta que, apesar de o primeiro volume reproduzir a história que o público já conhece, o desafio da equipe foi “mexer no formato”, adaptando para a linguagem das HQs conceitos complexos como a deficiência visual do protagonista e a presença da música, como na cena da dança. Freire ressaltou a dinâmica da colaboração: “A gente sempre teve essa troca de muita liberdade”.
Enquanto a versão em quadrinhos, que terá mais de 200 páginas, não chega às prateleiras em maio de 2026, os fãs terão a chance de conhecer o trabalho de Bruno Freire, que estará na Artists’ Alley da CCXP 2025. O projeto promete renovar o fascínio pela história de Leo, provando que ser amado é, antes de tudo, ser visto.