Desde sua popularização, em 2023, os agonistas de GLP-1 têm sido alvo de falsificadores, gerando lucro no mercado clandestino com promessas de emagrecimento rápido. Agora, a ação ilegal chega até a medicamentos que ainda nem foram lançados – caso da retatrutida.
De acordo com a Receita Federal, no último dia 6 de junho, 60 canetas do suposto medicamento foram apreendidas no Aeroporto Internacional de Salvador, na Bahia. “As canetas têm valor de mercado estimado em 400 mil reais, embora o valor de aquisição tenha sido de 50 mil reais, segundo o que foi declarado pela passageira”, diz a nota da secretaria.
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As canetas foram encontradas presas ao corpo de uma mulher que vinha de Madrid, em um voo da Air Europa. Além da retatrutida, ela ainda carregava 30 unidades do Mounjaro. A passageira tinha Fortaleza como destino final e foi pega em flagrante pelo crime de contrabando.
Apesar de o suposto medicamento estar sendo vendido na internet sob o nome de Synedica Retatrutide, por cerca de 380 dólares (cerca de 2 092 reais), a retatruitida é uma molécula atualmente em fase de testes e ainda não foi lançada pela fabricante.
“Este medicamento, considerado mais potente, ainda não foi liberado pela Anvisa e está em fase de estudos clínicos no Brasil […] sua previsão de liberação no país é apenas para 2026”, disse o Conselho Federal de Farmácia, em comunicado. “O consumo de medicamentos não aprovados ou fora dos canais de vigilância sanitária representa sérios riscos à saúde, incluindo efeitos colaterais imprevisíveis e falta de garantia sobre sua segurança, qualidade e eficácia.”
O que é a retatrutida?
Diferentemente do que dá a entender pelos anúncios, a retatruitida é uma molécula produzida exclusivamente pela Eli Lilly, mesma farmacêutica responsável pela produção e distribuição da tirzepatida, conhecida comercialmente como Mounjaro.
A molécula ganhou fama – inclusive nas redes sociais, onde é anunciada por supostos profissionais da estética – por agir em três alvos diferentes. Enquanto o Mounjaro atua sobre os receptores GIP e o GLP-1, a retatrutida também consegue ativar os receptores do glucagon.
Atualmente, a droga está na terceira fase de estudos clínicos, que devem ser finalizados apenas em fevereiro de 2026. Nessa etapa, a segurança e a eficácia da droga são investigadas em um grande grupo e por um longo período.
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De acordo com os estudos de fase 2, contudo, os resultados são animadores. Com dados publicados no The New England Journal of Medicine, a droga foi capaz de promover uma perda de peso de 24,2% em 48 semanas de uso, valor superior ao provocado por drogas como o Ozempic e o Mounjaro.
A droga ainda não foi aprovada pela Agência Nacional de VIgilância Sanitária e não está sendo comercializada pela Lilly em nenhum lugar do mundo.