O diretor geral da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês), Rafael Grossi, alertou nesta segunda-feira, 16, para os riscos da segurança nuclear devido aos bombardeios de Israel a instalações do programa atômico do Irã. Ele disse que não houve ataques à Usina de Enriquecimento de Combustível de Natanz, principal instalação de enriquecimento do país, desde a última sexta-feira, quando uma parte da central foi destruída enquanto estava produzindo urânio enriquecido.
“A escalada militar ameaça vidas, aumenta a chance de uma liberação radiológica com consequências graves para as pessoas e o meio ambiente e atrasa o trabalho indispensável para uma solução diplomática para a garantia de longo prazo de que o Irã não adquira uma arma nuclear”, discursou numa reunião extraordinária em Viena.
“Em consonância com os objetivos da IAEA e seu Estatuto, apelo a todas as partes para que exerçam a máxima contenção para evitar uma maior escalada”, acrescentou Grossi.
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Contaminação radiológica e química
Natanz foi responsável pelo aumento do refinamento de urânio a 60%, abaixo dos 90% necessários para armas nucleares. Em relatórios anteriores, a IAEA advertiu para a disparada do enriquecimento de urânio no pais. Em maio do ano passado, um estudo apontou que Teerã tinha conseguido produzir 408,6 kg de urânio a 60%, sendo 133,8 kg em apenas três meses. Um ano antes, a agência tinha encontrado “partículas” com 83,7% de pureza no Irã.
O chefe da IAEA informou que o nível de radioatividade permaneceu normal, o que indica que os bombardeios não causaram impacto radiológico externo. A situação, no entanto, é diferente do lado de dentro. Na instalação, houve “contaminação radiológica e química”, segundo Rossi, e acredita-se que “isótopos de urânio contidos em hexafluoreto de urânio, fluoreto de uranila e fluoreto de hidrogênio estejam dispersos no interior da instalação”.
“A radiação, composta principalmente por partículas alfa, representa um perigo significativo se o urânio for inalado ou ingerido. No entanto, esse risco pode ser gerenciado de forma eficaz com medidas de proteção adequadas, como o uso de dispositivos de proteção respiratória dentro das instalações afetadas”, amenizou ele.
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De Ucrânia a Irã
Além disso, Rossi destacou que é a segunda vez em três anos que a agência testemunha “um conflito dramático entre dois Estados-membros da AIEA, no qual instalações nucleares estão sendo atacadas e a segurança nuclear está sendo comprometida”, em referência à guerra na Ucrânia. Ele disse, então, que a IAEA “não ficará de braços cruzados” na guerra entre Israel e Irã.
“Podemos e agiremos dentro do nosso mandato legal para auxiliar na prevenção de um acidente nuclear que possa resultar em consequências radiológicas imprevisíveis”, afirmou o diretor. “Por mais intratável que pareça em meio ao calor do conflito militar contínuo, já mostramos antes que – mesmo em tais circunstâncias – uma assistência técnica respeitosa e imparcial pode beneficiar a todos.”
“Espero que este Conselho (de Governadores, responsável por supervisionar a agência), e especialmente os Estados-Membros com maior capacidade para isso, atendam a este apelo para auxiliar a IAEA a auxiliar aqueles que hoje estão trocando tiros, a fim de evitar o pior. Sempre há tempo e sempre há espaço para a diplomacia”, concluiu.