Em menos de dois anos, a televisão brasileira viu surgir três produções dedicadas ao universo do jogo do bicho carioca. A primeira foi Vale o Escrito, série documental do Globoplay lançada em 2023, que abriu uma nova leva de interesse pelo assunto. Em setembro de 2024, Volta Por Cima, novela das 7 da TV Globo, levou essa atmosfera para dentro de um núcleo ficcional da televisão aberta. E, mais recentemente, Os Donos do Jogo, da Netflix, tornou-se um fenômeno poucas semanas após a estreia, impulsionando debates sobre o submundo do crime e seu lugar na cultura pop.
Autor do livro Maldito invento dum baronete: uma breve história do jogo do bicho (ed. Mórula Editorial), Luiz Antônio Simas observa na ficção o risco de romantizar o crime e a tendência à glamourização, mencionando o histórico do país em tornar criminosos em celebridades. “Somos um país que transforma uma assassina dos pais, por exemplo, em figura de referência com mais de 100 mil seguidores, fãs, cartas. O mesmo acontece com a série sobre o jogo do bicho que está passando agora, em que muitos veem os personagens como figuras bonitas, sensualizadas. Ficamos sempre nesse risco, nessa corda bamba, nesse fio da navalha da glamourização”, avalia à coluna GENTE.
Contudo, o escritor e historiador não acredita que o investimento no tema e a adesão massiva do público seja um caso exclusivo do Brasil. Para ele, o interesse por narrativas que exploram poder, violência, dinheiro e moralidade é um mercado global. “Se você fizer uma boa pesquisa nos streamings vai perceber que as séries e filmes que abordam o universo do crime fazem sucesso no mundo inteiro. Há séries da Turquia, da Índia, da Inglaterra, dos Estados Unidos, da França… tudo quanto é lugar. Isso faz parte do imaginário e está presente no cinema, na literatura, em toda forma de narrativa. É um mercado que, mundialmente falando, gera muita audiência e dinheiro”, conclui.