Pesquisadores registraram, pela primeira vez, o momento em que formigas são manipuladas a matar a própria rainha; um episódio raro mesmo entre insetos sociais. O estudo, publicado em Current Biology, mostra que tudo começa quando uma rainha parasita invade o ninho de outra espécie.
Essa intrusa, das espécies Lasius orientalis ou L. umbratus, encontra operárias do lado de fora do formigueiro e esfrega o corpo nelas. Com isso, absorve o odor químico da colônia, que funciona como uma senha de reconhecimento. Só então ela entra no ninho, sem ser atacada.
O que faz as operárias atacarem a própria líder?
Dentro da colônia, a parasita parte direto para a rainha residente. Em vez de mordidas ou confronto físico, ela usa um método mais preciso: lança pequenas rajadas de um fluido químico pelo acidóporo, estrutura responsável por pulverizar substâncias defensivas. Os cientistas acreditam que o composto seja ácido fórmico.
O efeito não é ferir, mas alterar o cheiro da rainha, que passa a emitir um odor estranho e desagradável para as próprias filhas. Como toda a organização social das formigas depende de sinais químicos; quem é amiga, quem é inimiga, quem é a rainha; bastam alguns segundos para que as operárias tratem sua mãe como uma invasora.
Elas avançam em grupo e matam a rainha original. Enquanto isso, a parasita se afasta para não ser confundida com o alvo. Depois do ataque, volta ao centro do ninho e assume o controle.
O que acontece depois da morte da rainha?
Com a antiga líder eliminada, a intrusa passa a colocar seus próprios ovos. As operárias, agora incapazes de distinguir o engano, passam a cuidar dos descendentes dela e a manter a colônia normalmente.
O episódio documentado é um exemplo claro de parasitismo social, em que uma espécie aproveita a estrutura de outra para iniciar sua própria linhagem. Segundo os autores, a gravação ajuda a explicar como esse tipo de tomada de poder acontece: não pela força, mas pela manipulação química, ponto central da vida social desses insetos.