O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sancionou nesta quarta-feira, 21, a lei que prevê a divulgação de todos os arquivos referentes ao caso Jeffrey Epstein, bilionário acusado de tráfico sexual de adolescentes que cometeu suicídio na prisão em 2019. Foi um giro de 180° para Trump, que passou meses evitando o assunto como quem espera que apenas desapareça, em meio a evidências cada vez maiores da sua amizade com Epstein. O sinal verde, contudo, gera um novo ponto de interrogação: quando os documentos serão liberados?
A lei determina que, uma vez sancionada, o Departamento de Justiça (DOJ, na sigla em inglês) tem até 30 dias para tornar os arquivos públicos. Mas há obstáculos: o DOJ tem permissão para bloquear registros que “coloquem em risco uma investigação federal em andamento ou um processo judicial em curso, desde que essa retenção seja estritamente necessária e temporária”.
A cláusula pode provocar atrasos, já que o republicano pediu para que fossem abertas investigações para analisar as ligações de Epstein com figurões democratas, incluindo o ex-presidente Bill Clinton, “para determinar o que estava acontecendo entre eles e com ele”. Clinton nega ter conhecimento sobre os abusos perpetrados por Epstein. Além dele, o ex-secretário do Tesouro, Larry Summers, e o fundador do LinkedIn, Reid Hoffman, serão investigados. Os três homens, assim como Trump, foram mencionados em dossiês já divulgados.
Partes dos documentos poderão ser censuradas para proteger a privacidade das vítimas. A lei afirma que o procuradora-geral dos EUA, Pam Bondi, pode “reter ou editar” registros que incluam nomes de vítimas, números de telefone, prontuários médicos ou quaisquer informações pessoais que “constituam uma invasão claramente injustificada da privacidade pessoal”. Outros dados também podem ser bloqueados pelas regras de sigilo do grande júri, uma questão que não foi abordada explicitamente pela norma aprovada.
O Departamento de Justiça já adiantou que um “grande volume” de seus 300 gigabytes de dados das investigações sobre Epstein é composto por imagens e vídeos de menores, além de conteúdos de abuso sexual infantil baixados da internet. Bondi disse nesta quarta que o governo americano continuará “a seguir a lei com a máxima transparência, ao mesmo tempo em que protegemos as vítimas”.
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Trump e Epstein
A relação entre os dois é antiga: eles faziam parte de círculos sociais de elite de Nova York e da Flórida. Em 2002, Trump disse à revista New York que o financista era “fantástico” e “muito divertido de se estar por perto”. Ele também contou que a dupla se conhecia há 15 anos, acrescentando: “Dizem até que ele gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu, e muitas delas são do tipo mais jovem”.
Epstein conviveu com milionários de Wall Street, membros da realeza (notadamente, o príncipe Andrew) e celebridades antes de se declarar culpado de exploração sexual de menores em 2008. As acusações que o levaram à prisão em 2019 ocorreram mais de uma década após um acordo judicial que o protegia. Ele foi encontrado morto por enforcamento pouco mais de um mês após parar atrás das grades.
Como promessa de campanha, Trump disse que liberaria os documentos relacionados ao caso se retornasse à Casa Branca. Em janeiro, quando o republicano publicou arquivos sobre a investigação, um clima de insatisfação tomou conta: as informações divulgadas já eram conhecidas. Pressionado, o presidente dos EUA virou alvo de uma teoria da conspiração dentro da sua base política, a Make America Great Again (MAGA), de que está em uma lista secreta de pessoas que se beneficiavam do esquema de Epstein.
Em setembro, os democratas da Câmara divulgaram uma suposta carta de Trump a Epstein. O documento já havia sido publicado pelo jornal americano The Wall Street Journal em julho, mas o republicano negou a veracidade. Tratava-se de um desenho de uma mulher nua com mensagens insinuantes, parte de um álbum de aniversário organizado para o financista em 2003.
Trocas de e-mails tornadas públicas na semana passada também sugerem que Trump não só sabia dos crimes cometidos por Epstein como passou “horas” com uma das vítimas — na edição publicada pelos democratas, o nome dela não aparece, mas outra versão do lote mostra que seria Virginia Giuffre, uma das principais acusadoras do financista, que morreu por suicídio em abril deste ano.