A delegação colombiana em Belém passou a COP30 na linha de frente de um esforço diplomático para transformar os apelos retóricos por descarbonização em medidas concretas.
Nos últimos dias, Bogotá liderou a articulação de um apelo por um “roadmap” (mapa do caminho) para a saída do petróleo, do gás e do carvão, reunindo o apoio de cerca de 80 países que defendem iniciar esse processo no âmbito da ONU.
A ministra do meio ambiente, Irene Vélez Torres, foi uma das vozes públicas que defenderam esse roteiro e a necessidade de eliminar subsídios aos fósseis como parte do processo.
Paralelamente, a Colômbia anunciou iniciativas fora do calendário formal da COP: o país planeja sediar uma Conferência Internacional para o Phase-Out (fim) dos combustíveis fósseis em 2026, impulsionando a agenda do chamado Fossil Fuel Non-Proliferation Treaty (o “Tratado” pelos fósseis), esforço que já reúne coalizões de países e organizações.
Essa movimentação busca criar instrumentos e compromissos internacionais para dar segurança política e financeira à transição.
Mas o impulso colombiano topou com resistência poderosa no centro das negociações.
Estados exportadores e grandes produtores, citados por negociadores e pela imprensa como Arábia Saudita, Rússia, China, Índia, principalmente, têm pressionado para que qualquer menção a um cronograma de “phase-out” seja excluída ou atenuada do texto final.
O rascunho preliminar da presidência brasileira chegou a omitir a referência ao roadmap, o que provocou reação de blocos favoráveis à meta e aumentou a tensão nas negociações.
Em suma: Bogotá propôs e mobilizou; os grupos pró-produção bloquearam avanços.
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A conta interna: por que a Colômbia encontra dificuldades para aplicar o que propõe
Dentro do país, porém, as condições políticas e econômicas complicam a promessa de abandonar os fósseis.
O governo do presidente Gustavo Petro empurrou políticas para reduzir novos contratos de petróleo e declarou apoio ao Tratado pelos fósseis, medidas que ganharam impacto internacional, mas também provocaram custos domésticos.
A restrição a novos investimentos e a demora em repor reservas contribuíram para uma crise de oferta de gás, o que levou o país a importar gás natural liquefeito (GNL) para atender lares e indústrias, com aumento de custos.
Essas consequências alimentaram críticas internas e foram usadas pela oposição eleitoral como argumento contra a política ambiental do governo.
No plano eleitoral, a reversão política já aparece nas campanhas: candidatos com chances competitivas defendem a retomada do uso intensivo de combustíveis fósseis e a liberação do fracking como solução rápida para ampliar reservas e reduzir o déficit energético.
Especialistas advertem, porém, que a transição é também uma transformação econômica profunda: receitas com petróleo e carvão financiam parte relevante das contas públicas e dos programas sociais, de modo que “abandonar” essas fontes sem alternativas seguras expõe o país a riscos macroeconômicos.
Além disso, há fragilidades técnicas e institucionais: a Colômbia acumulou atrasos na atualização das suas NDCs (contribuições nacionais ao Acordo de Paris), e mudanças frequentes na gestão ambiental e metodologia participativa enfraqueceram a capacidade de formular planos robustos que atraiam financiamento internacional.
Em outras palavras, falta ao país um conjunto de medidas integradas, políticas, econômicas e fiscais, que torne factível a saída dos combustíveis fósseis sem comprometer oferta energética e estabilidade social.