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Péssimo momento para Zelensky, de plano americano a casos de corrupção

De herói a vilão, é possível que seja esta a trajetória de Volodymyr Zelensky? A história, como sempre, parece confusa demais quando a vivemos, mas um assento de vaso sanitário de ouro maciço, as tramoias do xará Vladimir Putin e o vazamento de como Donald Trump pretende acabar com a guerra, através de um plano duríssimo para a Ucrânia, combinam-se atualmente para criar talvez o pior momento para o presidente ucraniano desde que esteve a poucas horas de ser preso e coisa pior, quando a Rússia invadiu o país.

Primeiro o plano, segundo foi vazado para a imprensa, incluindo a cessão dos territórios que os russos já ocupam na região do Donbas, a proibição de ajuda militar externa, a proibição de aviões de guerra, que teriam que ficar baseados na Polônia, e a redução pela metade, para 600 mil integrantes, das forças ucranianas. Em troca, os Estados Unidos dariam garantias de proteção à Ucrânia. É possível que outros detalhes ainda se tornem conhecidos, oferecendo uma proposta melhor e menos injusta para o país invadido.

Além dos territórios, a Rússia lucraria com a eliminação das sanções e a volta ao mundo civilizado do qual se retirou deliberadamente ao invadir a Ucrânia. Também receberia o dinheiro congelado em contas no exterior e seria readmitida no G7.

O governo francês comentou que o plano de 28 pontos, negociados entre Steve Witcoff e representantes russos, “não pode significar capitulação; não queremos a capitulação da Ucrânia”, nas palavras de seu ministro do Exterior, Jean-Noël Barrot.

Considere-se que existe nisso uma grande dose de orgulho nacional ferido pela total exclusão dos europeus, incluindo franceses, da mesa de negociação. Sem contar algo megalomaníaca venda de cem aviões Rafale, caças modernos e caríssimos – mais de cem milhões de dólares cada. Em caso de um acordo, não haveria venda nenhuma.

APELIDO: ALI BABÁ

O tamanho das concessões exigidas à Ucrânia poderia levar, no limite, até a um golpe contra Zelensky por parte da corrente dos ultranacionalistas dispostos a jamais ceder ao inimigo russo. Pelas regras do plano, a Ucrânia teria que fazer eleição presidencial – protelada durante a guerra – em cem dias, a partir de sua entrada em vigor. O candidato mais cotado atualmente é o general Valeri Zalujni, que Zelensky tirou do alto comando das Forças Armadas e mandou para o exílio como embaixador em Londres.

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Tecnicamente, pela constituição ucraniana, Zelensky sequer pode concordar em ceder qualquer parte do território nacional. Reduzir o contingente militar e proibir a presença da OTAN em território ucraniano soa até como traição, daí o risco de uma rebelião dos ultranacionalistas ou de uma ala das Forças Armadas.

Passemos agora ao assento de vaso sanitário de ouro, encontrado por promotores anticorrupcão na casa de Timur Mindich. À brasileira, ele conseguiu fugir do país pouco antes da chegada dos encarregados de investigar um grande – embora nada impressionante, por nossos padrões – desvio de dinheiro na Energoatom, a estatal de energia nuclear.

Mindich era sócio de Zelensky na Kvartal 95, a produtora de séries de televisão que transformou o jovem humorista num homem rico muito antes de chegar à presidência, mas obviamente sem comparações com o nível de dinheiro proporcionado por altos funcionários corruptos.

Também à brasileira, figurões importantes eram identificados por apelidos. Ali Babá correspondia a Andri Yermak, o chefe de gabinete que muitos clamam para Zelensky demitir.. Ele é considerado o arquiteto da alta concentração de poder nas mãos do presidente.

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‘IMPLOSÃO E GUERRA CIVIL’

Outro amigo, o ex-vice-primeiro-ministro Oleksi Chernishov era Che Guevara. Sua mulher, Svetlana, a Professora. Recebeu 500 mil dólares de um empresário amigo, segundo as incríveis revelações, registradas em áudio e vídeo, feitas pelo Serviço Nacional Anticorrupção, conhecido pelas iniciais, NABU.

As investigações, que receberam o nome de Operação Midas, outra similaridade com o Brasil, transfixam o país e são frequentemente comparadas a uma série da Netflix.

Enquanto isso, a Rússia intensifica os ataques na linha de frente, mata impunemente civis em prédios de apartamentos atingidos por mísseis e prepara um óbvio plano para deixar a Ucrânia sem eletricidade e sem calefação o no inverno que já começa no continente europeu.

“Derrota, implosão política e guerra civil”, disse o comentarista britânico Owen Matthews, da revista The Spectator, sobre as perspectivas diante de Zelensky, ressaltando que a confiança da opinião púbica nele caiu para menos de 20%, comparados a 60% no começo do ano.

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Tudo o que se fala sobre Zelensky deve ser considerado com cautela por causa das enormes operações de propaganda feitas contra ele pela inteligência russa, mas não pode ser ignorado que o presidente, tão heroicamente capaz de resistir aos invasores, também concentrou muitos poderes e se cercou por assessores que hoje estão no centro da Operação Midas.

Ele também tentou acabar com o serviço anticorrupção, através do serviço de inteligência, o SBU, sob seu controle. Houve protestos de rua quando isso aconteceu – num país em guerra , o que demanda muita mobilização, apesar do tamanho reduzido – e aliados ocidentais mandaram recados. Zelensky recuou.

MOMENTO EXISTENCIAL

Teria o humorista que ganhou projeção nacional interpretando um professor que é eleito presidente, por um desabafo em sala de aula contra a corrupção, se tornado exatamente o oposto do que parecia ser? Zelensky foi eleito presidente, antes da invasão russa, por ser um outsider, um forasteiro da política que daria um jeito nos corruptos.

As suspeitas em torno de Zelensky enfraquecem a posição da Ucrânia num momento de importância existencial. Seria uma ironia a mais, num país onde esta se tornou moeda corrente, se o herói da resistência se revelasse um corrupto corriqueiro, um “político como os outros” que está no balcão de negócios ilícitos. Nada até agora foi apresentado contra ele, exceto por proximidade com investigados. As quantias desviadas através de contratos superfaturados são da ordem de cem milhões de dólares, pelo exposto até agora, mas o caso continua a se desdobrar.

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Mesmo numa posição forte, qualquer outro líder ucraniano não teria condições de resistir às pressões dos Estados Unidos para aceitar as condições de uma paz imposta. Numa posição fraca, fica mais impossível ainda. Zelensky já disse que vai conversar com os americanos, mesmo antes de receber oficialmente a proposta de Donald Trump.

“A política interna tradicionalmente turbulenta da Ucrânia foi silenciada pela guerra, com ex-inimigos cerrando fileiras em torno de Zelensky”, anotou Owen Matthews.”Mas à medida em que sua credibilidade se desmancha e seu pulso político enfraquece, essa trégua está se desfazendo. Está pronto o cenário para uma disputa pelo poder que poderia derivar para o caos político.”

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