A última vez que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, compareceu a uma cúpula do G7, o grupo das sete maiores economias do mundo, no Canadá, foi em 2018, durante seu primeiro mandato. A imagem que marcou o evento foi simbólica: o republicano sentado, de braços cruzados, em postura de desafio, enquanto a então chanceler alemã, Angela Merkel, o encarava com fúria.
Se há um objetivo compartilhado na cúpula do G7 deste ano, que começa nesta segunda-feira, 16, nas Montanhas Rochosas canadenses, é evitar cenas semelhantes e reduzir as tensões num momento já inflamado. Trump impôs tarifas severas a várias dezenas de países, o que pode levar a uma desaceleração econômica global. Há pouco progresso na resolução dos conflitos na Ucrânia e em Gaza e, agora, um novo e crescente conflito entre Israel e o Irã sobre o programa nuclear de Teerã ameaça desencadear uma guerra total no Oriente Médio.

Sobre esse mix complexo pairam ainda os problemas das mudanças climáticas, imigração, tráfico de drogas, novas tecnologias como inteligência artificial e a contínua superioridade industrial da China – e seu domínio sobre as principais cadeias de suprimentos.
Não se espera que os líderes dos Estados Unidos, Japão, França, Reino Unido, Itália, Alemanha e Canadá cheguem a conclusões sobre esses assuntos complexos. Declarações pomposas e vagas são o que se espera das reuniões de cúpula — rodadas de conversas articuladas mais para mostrar quem é quem entre os poderosos do que para debater ações concretas. E desta vez, talvez sequer consigam transmitir uma mensagem de união – o fator Trump, imprevisível e adepto do “cada um por si”, deve complicar a agenda.
A Casa Branca tem mantido silêncio sobre seus objetivos para o G7, que teve origem em uma reunião de ministros das Finanças em 1973 para abordar a crise do petróleo e evoluiu gradualmente para uma cúpula anual com o objetivo de promover relacionamentos pessoais entre líderes mundiais e abordar problemas globais.
Não há planos para uma declaração conjunta do G7 este ano, um sinal de que o governo Trump não vê necessidade de construir um consenso compartilhado com outras democracias se considerar tal documento contrário aos seus objetivos – entre eles, novas tarifas, maior produção de combustíveis fósseis e uma Europa menos dependente das Forças Armadas dos Estados Unidos.
“Para Trump, acordo nenhum é melhor do que um acordo ruim”, declarou Caitlin Welsh, diretora do think tank Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), que integrou a equipe do presidente americano para o G7 durante seu primeiro mandato.
Os primeiros cinco meses do segundo mandato de Trump alteraram a política externa em relação à Ucrânia, aumentaram a ansiedade sobre seus laços mais estreitos com a Rússia e resultaram em tarifas sobre aliados dos Estados Unidos. Com a escalada do conflito entre Israel e Irã, que está elevando os preços globais do petróleo, a cúpula no Canadá é vista como um momento vital para tentar restaurar uma aparência de unidade entre as potências democráticas.
“O objetivo mais importante será que as sete maiores nações industrializadas do mundo cheguem a um acordo e tomem medidas”, disse o chanceler alemão, Friedrich Merz, antes de participar de sua primeira reunião do G7.
Isso não será fácil. Após anos de consenso, os aliados tradicionais têm se esforçado para manter Trump engajado e unido.
O Canadá abandonou esforços para adotar uma declaração conjunta, para evitar a repetição da cúpula de 2018 em Quebec, quando Trump instruiu a delegação americana a retirar sua aprovação do comunicado final. Ao invés disso, Ottawa busca consenso para um documento que apenas resuma as principais discussões do encontro, além de outras seis declarações pré-negociadas sobre questões como imigração, IA e incêndios florestais.
As negociações desta segunda-feira se concentrarão na economia, no avanço de acordos comerciais e na questão da China. Mas a agenda já deve começar com percalços: esforços para fechar um acordo para reduzir o teto de preços do G7 para o petróleo russo, mesmo que Trump opte por não participar, foram dificultados pela alta nos preços do petróleo devido aos ataques de Israel contra o Irã.