Como nas demais indicações que fez ao Supremo Tribunal Federal neste terceiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva priorizou a lealdade ao indicar Jorge Messias, 45, para uma cadeira na mais alta Corte do país.
O atual advogado-geral da União era o favorito para o cargo, para o qual já havia sido cotado em duas ocasiões passadas: quando Ricardo Lewandowski e Rosa Weber se aposentaram. O ex-advogado do presidente Cristiano Zanin e o ex-ministro Flávio Dino, respectivamente, acabaram sendo os escolhidos. Agora, no entanto, chegou a vez do “Bessias” como ele ficou conhecido em 2016, ao ser mencionado pela ex-presidente Dilma Rousseff, com a voz anasalada por causa de uma gripe, em uma ligação grampeada pela Operação Lava-Jato — à época, ele era chefe de assuntos jurídicos do Planalto.
Messias voltou ao governo em 2023 como ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), posição que já foi exercida por Gilmar Mendes, Dias Toffoli e André Mendonça. No cargo, demonstrou seguidamente a fidelidade a Lula: criou uma subpasta para mirar perfis nas redes sociais que espalhavam desinformação contra o governo, pediu à Polícia Federal um inquérito contra um deputado que disse no plenário da Câmara que desejava a morte do presidente, e ativamente defendeu a responsabilização dos envolvidos nos atos golpistas de 8 de Janeiro. Também contratou um escritório de advocacia americano para lidar com o tarifaço, a imposição da Lei Magnitsky e o cancelamento de vistos a autoridades brasileiras – ele próprio teve o documento de viagem cassado pela gestão de Donald Trump.
Procurador concursado, Messias ingressou na AGU pela primeira vez em 2007, atuando pela Fazenda Nacional. No ano passado, defendeu sua tese de doutorado na UnB (Universidade de Brasília), em que cita o “conservadorismo e autoritarismo do STF”, que teria atuado “de maneira partidarizada em detrimento de interesses do PT” durante o período do Mensalão e da Lava-Jato. Para ele, as ““investigações que, de maneira um tanto superficial e irresponsável, acabaram por criminalizar a política.”
‘Terrivelmente evangélico’
Outro ponto a favor da indicação de Messias é o seu trânsito junto à comunidade evangélica: ele professa a mesma crença desde criança e frequenta semanalmente a Igreja Batista, uma das vertentes mais conservadoras da religião, em Brasília. Por isso mesmo há quem o defina como um “cristão conservador” de esquerda, com posicionamentos progressistas.
“Messias é evangélico e muito preparado. Não existe crente de direita e nem de esquerda. Existe crente. E ele é terrivelmente evangélico”, disse Cezinha de Madureira (PSD-SP), deputado federal e pastor da Assembleia de Deus.
O líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), opinou, porém, que a indicação não poderia ser vista como um aceno aos evangélicos. À coluna Radar, ele disse que Messias é um “cristão petista”, que só representaria 5% da comunidade dessa religião.
O fato é que entre os evangélicos – 27% da população, segundo o Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) — o presidente Lula enfrenta sua maior rejeição: 63% desse segmento desaprova o governo, de acordo com a última pesquisa Genial/Quaest, divulgada no início deste mês.
