O relatório de emprego dos Estados Unidos para setembro, finalmente divulgado após seis semanas de atraso por causa do shutdown federal, trouxe um número que parece otimista à primeira vista: 119 mil vagas criadas, mais que o dobro da mediana projetada pelos economistas (51 mil). Mas o alívio dura pouco. Trata-se de um ganho modesto para os padrões recentes e, sobretudo, de mais um capítulo na trajetória de desaceleração que vem se consolidando desde abril.
Parte dessa queda de ritmo ficou evidente nas revisões: o Departamento do Trabalho corrigiu para baixo os números de julho e agosto, retirando 33 mil vagas do total previamente estimado, incluindo a revelação de que agosto, na verdade, havia registrado perda de 4 mil empregos. O quadro, portanto, não é de aceleração, mas de uma recuperação apenas parcial.
A criação de empregos foi suficientemente forte para superar projeções deprimidas, mas fraca demais para sugerir que a economia mantém o impulso que sustentou a expansão pós-pandemia.
A taxa de desemprego subiu de 4,3% para 4,4%, acompanhada por um aumento no número de desempregados para 7,6 milhões, ambos acima dos níveis de um ano atrás. Não é o tipo de salto que assusta investidores, mas reforça a leitura de que o mercado de trabalho está cedendo lentamente. Os salários médios por hora avançaram 0,2% no mês e 3,8% em 12 meses, chegando a US$ 36,67.
O atraso na divulgação de setembro veio acompanhado de um problema mais grave: não haverá qualquer relatório referente a outubro. A paralisação do governo impediu o BLS de coletar os dados domiciliares, a base que fornece a taxa de desemprego, a participação na força de trabalho e outras métricas essenciais. Como essa coleta não pode ser feita retroativamente, o mês desaparece das estatísticas oficiais.
A lacuna é tudo menos trivial. Sem as informações de outubro e com o próximo relatório completo previsto apenas para 16 de dezembro, economistas e formuladores de política monetária perderão uma leitura-chave sobre a direção do mercado de trabalho justamente num momento em que o Federal Reserve tenta medir, com precisão cirúrgica, quando, e quanto, poderá cortar juros em 2026.
O Payroll de setembro, portanto, não marca retomada alguma; registra uma desaceleração controlada. Ele surpreende positivamente frente às expectativas, já rebaixadas por revisões negativas, mas permanece longe da vitalidade observada no último ano.
