Quando o Banco Master ainda tentava se firmar como um “player” ousado no mercado financeiro, um vídeo de pouco menos de quatro minutos dominou o debate nas redes, e não pelos motivos que agora levam a instituição às manchetes. Gravado pela advogada, apresentadora e influenciadora Gabriela Prioli, o conteúdo adotava o estilo calculadamente despretensioso do “leigo curioso”, mas, na prática, funcionou como uma defesa do modus operandi do banco. À época, a transação em discussão era a compra de parte das ações do Master pelo Banco de Brasília (BRB). Hoje, o tema virou peça de ironia nas redes após a revelação de uma fraude bilionária e a prisão do controlador do banco, Daniel Vorcaro.
O enredo é, por si só, um retrato de como a comunicação digital se tornou parte integrante, e às vezes explosiva, do ecossistema financeiro brasileiro. Prioli questionava no vídeo se o “barulho” em torno da operação não seria uma manobra de grandes bancos interessados em desvalorizar ativos do Master para comprá-los mais barato. A influenciadora elogiava a “rentabilidade atrativa” dos CDBs, destacava o suposto papel do FGC como colchão de segurança e, ao final, concluía que não havia “nenhum problema aparente”. A lógica, segundo ela, era simples: “Quem desdenha quer comprar”.
À época, a análise conquistou milhares de visualizações e foi recebida como uma tentativa de equilibrar o debate sobre bancos médios. Hoje, republicada no X (ex-Twitter), virou munição para críticas ácidas: teria a “forcinha involuntária” da influenciadora ajudado a legitimar um banco que, meses depois, ruiu sobre um rombo de R$ 12 bilhões?
A operação da Polícia Federal que levou à prisão de Vorcaro na noite de 17 de novembro, seguida da liquidação extrajudicial no dia seguinte, desmontou a narrativa de eficiência e inovação que o Master buscava vender. A PF investiga a emissão de papéis fraudulentos vendidos ao BRB e a outros investidores, além de indícios de manobras contábeis que comprometeram o Fundo Garantidor de Créditos.
O episódio também derrubou a tentativa mais recente de salvamento: a Fictor Holding Financeira, ao lado de um consórcio de investidores dos Emirados Árabes, anunciou a compra do Master no dia 17, e suspendeu tudo no dia 18, após a operação da PF. Antes disso, o próprio BRB já havia tentado adquirir 49% das ações ordinárias e 100% das preferenciais do banco, em uma negociação rejeitada pelo Banco Central em setembro.
O vídeo de Prioli reacendeu outro debate incômodo: qual é o limite entre comentar finanças e oferecer, na prática, uma recomendação disfarçada? O mercado é sensível a nuances e, em um ambiente dominado por influenciadores, a responsabilidade de quem fala para milhões se tornou parte do jogo.
O fundador da casa de análise Suno Research,Tiago Guitián Reis, publicou no X que Prioli não possui certificação como analista de investimentos e que, como membro do Comitê de Autorregulação da Apimec, encaminharia o caso para averiguação. A discussão extrapola o tom político das redes: toca diretamente no esforço regulatório para conter o “efeito manada” em investimentos vendidos via narrativa, não via dados.
Pelo que eu chequei no site da Apimec, a Sra. Gabriela Prioli não é analista de investimentos certificada.
E, portanto, não tem competência legal para fazer análise de investimentos como esta do vídeo.
Como membro do Comitê de Auto-regulação da Apimec, estarei encaminhando… https://t.co/zdPEhswfgy
— Tiago Guitián Reis (@Tiagogreis) November 19, 2025