Embora as disputas entorno da categoria “pardo” exista há anos, elas também foram infladas pelos recentes discursos sobre o colorismo e a instauração das comissões de heteroidentificação racial como procedimento que busca garantir o acesso de pessoas negras a cotas em concursos e seleções públicas. Os debates que esses processos levantam subsidiaram a criação e circulação de categorias e conceitos entre os ambientes acadêmico-científicos, políticos e virtuais, que tentassem dar conta da explicação desses fenômenos. Termos como “passabilidade”, “afrobege” e “afroconveniente” ganham presença e tensionam as discussões sobre raça no Brasil.
É diante desse debate racial brasileiro, que o livro Contramestiçagem negra e colorismo, de Gabriela Bacelar, vem se juntar a outras poucas mas importantes publicações, sobre o tema no Brasil, trazendo ao debate recortes e reflexões inéditas. Para o teórico e professor da UFRJ Muniz Sodré, quem escreve a orelha do livro, “o trabalho de Gabriela tem o mérito de abordar com pesquisa de campo uma temática praticamente ausente dos estudos sobre racismo no Brasil”.
“Debater o pardo, sobretudo no mês da consciência negra, é refletir sobre o negro fora de estereótipos estáticos, que desconsideram as muitas marcas de misturas fenotípicas e culturais que constituem o negro brasileiro em sua pluralidade. É um benefício conceitual, ético e político”, diz a autora.
A popularização necessária e bem-vinda do debate racial trouxe desafios importantes. No momento em que a questão racial está sendo disputada por diferentes discursos presentes nas plataformas digitais, as proposições construídas por tantos anos e tantas mãos da política do Movimento Negro e dos estudos étnico-raciais, por vezes, são resumidas em poucas linhas de posts no Instagram, causando frequentemente mais desinformação do que entendimento.
Lilia Moritz Schwarcz diz que, mesmo diante da vasta bibliografia e do amplo debate sobre a mestiçagem, Gabriela Bacelar consegue percorrê-lo “com cuidado e inteligência, no sentido de construir um conceito próprio cujo objetivo é pensar e propor uma “contramestiçagem” e um “anti-colorismo”.