Enquanto o Congresso se divide em torno do PL Antifacção e da PEC da Segurança, uma terceira frente ganhou tração em Brasília: a CPI do Crime Organizado. Diferentemente das disputas estridentes na Câmara, a comissão do Senado começa a se firmar como um espaço de diagnóstico real sobre o colapso da segurança pública — ainda que também esteja sujeita à contaminação eleitoral.
Segundo José Benedito da Silva, no programa Ponto de Vista desta quarta, 19, a CPI acerta justamente por sua composição. O presidente, Fabiano Contarato (PT-ES), delegado de polícia aposentado, e o relator, Alessandro Vieira (MDB-SE), ex-delegado e hoje um dos senadores mais técnicos do Congresso, formam uma dupla capaz de tocar o tema com independência.
A CPI pode entregar resultados concretos?
Para José Benedito, sim. E a razão está no tipo de revelação que já começa a aparecer.
O senador Contarato, com décadas de experiência na segurança pública, demonstrou surpresa ao ouvir do diretor de inteligência penal do Ministério da Justiça que o governo não dispõe de dados confiáveis sobre: população carcerária; reincidência; movimentação entre facções; gargalos do sistema penitenciário.
“Se até Contarato, com anos de atuação, está surpreso, imagine nós”, resume José Benedito.
As primeiras sessões mostram que o país formula políticas públicas “no escuro”, sem critérios, sem métricas e sem base empírica — um dos motivos centrais para a incapacidade do Estado de enfrentar facções cada vez mais organizadas, violentas e enraizadas em diferentes regiões.
A CPI pode virar só palanque?
O risco existe, reconhece José Benedito. “Quanto mais perto das eleições, maior a chance de contaminação política”, avalia o colunista. A disputa entre governo e oposição sobre quem carrega a bandeira da segurança pública — hoje ponto número um de preocupação nacional — deve se intensificar.
Ainda assim, vale a pena?
José Benedito responde: “Acho que são iniciativas boas. Trabalhar com dados corretos é central. Se não sabemos nem onde está o problema, estamos perdidos.”
O Senado, pelo menos por enquanto, oferece um ambiente menos inflamado do que a Câmara. E, com dois senadores experientes à frente da investigação, há expectativa de que a CPI ajude a: mapear distorções; identificar gargalos; propor políticas públicas de longo prazo; iluminar áreas completamente obscuras do sistema penal.
Segurança pública no topo da agenda
Enquanto o país assiste ao avanço das facções no Rio, na Bahia, no Ceará e em vários outros estados, o Congresso tenta ocupar o espaço deixado por um governo que, até agora, não entregou respostas concretas para o tema.