A crise do metanol, com episódios de intoxicação e mortes pelo consumo de bebidas alcoólicas adulteradas com a substância, teve seu ápice entre o fim de setembro e o início de outubro, mas ainda é objeto de investigações, inclusive de pesquisadores que querem compreender os impactos para a saúde. Um dos desfechos graves que afetou pacientes foi a perda da visão, por meio da lesão do nervo óptico, que virou foco de uma pesquisa clínica da Rede Total Care, do Grupo Amil, em parceria com o Centro Edson Bueno, unidade de ensino e pesquisa também do grupo, e a Associação Brasileira de Neuro-Oftalmologia.
O objetivo da pesquisa inédita no país, que deve durar dois anos e ocorrer na cidade de São Paulo, é compreender a neuropatia óptica tóxica, que pode ser desencadeada pelo consumo de bebidas contaminadas com o metanol a partir da avaliação oftalmológica gratuita de pessoas com sintomas do quadro (leia mais sobre os requisitos dos voluntários abaixo). A iniciativa foi apresentada com exclusividade para VEJA.
“Queremos entender como o metanol afeta a via óptica para ajudar essas pessoas a receber o cuidado adequado. Em muitos casos, os pacientes acreditam estar apenas com uma ressaca forte e não percebem que estão diante de um quadro grave, que pode evoluir para perda visual irreversível, como infelizmente já aconteceu”, diz o oftalmologista Eric Pinheiro de Andrade, vice-presidente da Associação Brasileira de Neuro‐Oftalmologia.
Segundo o último balanço do Ministério da Saúde, divulgado no último dia 13, o país registrou 60 casos confirmados de intoxicação por metanol nos estados de São Paulo (47), Paraná (6), Pernambuco (5), Mato Grosso (1) e Rio Grande do Sul (1). Outros 30 episódios são investigados.
Foram registradas 15 mortes, das quais nove ocorreram em São Paulo, três no Paraná e três em Pernambuco.
Avaliação oftalmológica e neurológica
No estudo, especialistas vão avaliar as alterações e danos na visão de pessoas que apresentarem laudo médico comprovando a contaminação por metanol na Eye Clinic, localizada no bairro de Moema, na zona sul da capital paulista.
Serão realizados exames oftalmológicos e neurológicos para avaliar o funcionamento da retina e a transmissão da imagem do cérebro, entre eles: campo visual, tomografia da retina (OCT) e testes eletrofisiológicos. Casos de comprometimento da visão serão encaminhados para avaliação especializada.
“Essa cooperação reúne conhecimento técnico, estrutura e acolhimento para atender quem foi afetado por essa situação, que é grave. Nosso papel é garantir que as vítimas tenham acesso a avaliação e cuidados especializados, essenciais para evitar sequelas, com o suporte dos melhores profissionais e equipamentos disponíveis”, diz Anderson Nascimento, CEO da Rede Total Care.
Como ser voluntário do estudo
- Ter 18 anos ou mais
- Ter histórico de exposição ao metanol ou álcool
- Apresentar suspeita ou diagnóstico confirmado de neuropatia óptica tóxica
- Perda visual gradual e indolor
- Dificuldade na percepção de cores
- Presença de escotomas (manchas escuras na visão) sem alteração pupilar
“Pacientes que se enquadrarem nesses critérios devem entrar em contato diretamente com a Eye Clinic para agendamento da avaliação especializada. O atendimento está disponível via WhatsApp pelo número: (11) 3004-1483”, informa a Rede Total Care.