O jantar realizado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, horas após o encontro com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, nesta terça-feira, 19, não poderia ter uma lista de convidados mais curiosa. Sob a luz de velas, reuniram-se membros da realeza saudita, para além de MBS; o magnata Elon Musk, que criticou fervorosamente o republicano após deixar o governo americano; o presidente da Fifa, Gianni Infantino, meses antes da Copa do Mundo, que será sediada nos EUA, Canadá e México; executivos de tecnologia e criptomoedas; apresentadores da emissora conservadora Fox News… e o jogador Cristiano Ronaldo.
A presença de Ronaldo parece dar contornos ao que se tornou a administração Trump, ávida a atrair toda sorte de personalidades para perto. Mas, afinal, o que está à mesa para o português? Pode-se especular que o atacante do Al-Nassr — clube que pertence ao fundo soberano da Arábia Saudita, o PIF, diga-se de passagem — decidiu cruzar o Atlântico para tentar reverter um cartão vermelho, resultado de uma cotovelada no zagueiro irlandês Dara O’Shea em um lance sem bola, que pode deixá-lo de fora da estreia da seleção de Portugal na Copa.
O jogador pode, ainda, estar tentando arrematar um indulto preventivo ou uma forma de garantia de que nunca, de fato, será punido pelo suposto estupro de uma mulher em Las Vegas em 2009. O caso foi arquivado por falta de provas, e a vítima alegou que foi coagida a assinar um acordo de sigilo de US$ 375 mil (cerca de R$ 2 milhões na cotação atual). O atleta, por sua vez, nega as acusações e nunca foi formalmente acusado. Por outro lado, Trump pode querer uma figurinha dourada no seu álbum de apoiadores políticos.
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Mas há quem diga que existe uma explicação plausível: Ronaldo foi levado a Washington por bin Salman como um chamariz, disseram “diversos especialistas” ao portal esportivo The Athletic, subsidiado pelo jornal americano The New York Times. O atacante, dono de um contrato milionário com o clube saudita, pode estar sendo como instrumento de soft power do país, fortemente criticado por organizações internacionais por violações de direitos humanos. A popularidade do português poderia emprestar uma visão mais proeminente e positiva — ou menos controversa — a Riad.
De todo modo, Ronaldo nunca escondeu o apreço por Trump. No início do mês, ele disse que gostaria de conversar com o líder americano para incentivá-lo a negociar a paz mundial. Na ocasião, o atleta definiu o republicano como “uma das pessoas que consegue fazer as coisas acontecerem”, acrescentando: “E eu gosto de gente assim”. Nesta terça, Ronaldo conheceu Trump. E nada impede de que um membro do comitê disciplinar da Fifa que em breve ajudará a decidir se Ronaldo deve cumprir a suspensão de três jogos pelo golpe em O’Shea seja influenciado pela proximidade do jogador com o homem mais poderoso do mundo. Estar próximo de Trump nunca pareceu tão vantajoso.