Há rituais que começam antes do próprio encontro. Antes do passo firme no mármore polido, antes do olhar que se ergue ao sagrado, é a roupa que fala. É ela que suaviza a voz, aquieta o gesto, enquadra o respeito. E encontrar o Papa, autoridade máxima da Igreja Católica, é vestir uma intenção. Assim foi o encontro de Cate Blanchett, Greta Gerwig, Monica Bellucci e outras artistas convocadas recentemente para o Vaticano – a elegância virou menos espetáculo e mais reverência — ainda que, vez ou outra, alguém atravesse o decoro com um, digamos, sopro de cor.
O protocolo é claro: sobriedade, modéstia e cobrir o essencial — ombros, joelhos, decotes e excessos. Para mulheres, vestidos ou saias (discretos), véu opcional nas audiências oficiais e, quase sempre, a cor preta. Para homens, calças compridas, camisas de mangas discretas, sapatos fechados. Nada de transparências, rasgos, slogans, ironias estampadas ou qualquer traço que pareça mais selfie do que cerimônia. A regra é simples: vista-se como quem entra num espaço onde milênios observam cada detalhe.
Nessa moldura estreita que as estrelas encontraram espaço para encontrar o Papa Leão XIV. Cate Blanchett surgiu em um terno preto de linhas afinadas da Louis Vuitton: austero, mas não rígido; moderno, mas obediente às tradições. Monica Bellucci optou por um smoking Saint Laurent, de uma elegância inabalável, lembrando que a alfaiataria feminina também pode prestar culto. E Greta Gerwig atravessou levemente o limite: apareceu em um coat-dress xadrez puxado para o roxo — uma cor associada à liturgia, sim, mas ainda assim um passo além do preto obrigatório. Não foi uma quebra de protocolo grave, mas um aceno à criatividade que o próprio pontífice havia encorajado minutos antes, convocando artistas a serem “peregrinos da imaginação”.
Quem pode sair do protocolo
Claro que existem as exceções. Nesse caso, são apenas sete mulheres no mundo que podem usufruir do raríssimo direito do “privilège du blanc”, ou seja, vestir branco diante do Papa. Cor de pureza e fidelidade religiosa, autorizada apenas a rainhas e princesas de monarquias católicas — Letizia e Sofía da Espanha, Paola e Mathilde da Bélgica, Charlene de Mônaco, Marina de Nápoles e a Grã-Duquesa Maria Teresa de Luxemburgo. É um privilégio antigo, simbólico, concedido caso a caso e jamais exigido, reservado a muito poucas.
No fim, vestir-se para ver o Papa é alinhar decoro e identidade sem ruído. Escolher peças que não clamem por atenção, que respirem respeito, que não tentem competir com o espaço — e, ainda assim, permitam que cada visitante conte muito discretamente quem é. Um gesto pequeno, silencioso, mas potente: porque, diante do Sumo Pontífice, a roupa se ajoelha antes de você.
Veja os looks:


