Mesmo quem acompanha as novidades sobre IA pode ficar sobrecarregado com a velocidade delas – ou seja, você não está só, e eu me sinto assim com frequência. Ontem veio mais um anúncio de peso: o Gemini 3, nova versão do modelo do Google.
Como a proposta da coluna é sempre contar para as pessoas o que a tecnologia impacta na vida delas, procurei uma abordagem que faça justamente isso. Ou seja, o que essa versão faz que realmente muda alguma coisa no cotidiano sempre corrido?
Algumas coisas que já existiam ficaram melhores (pelo menos é a promessa da big tech que criou o modelo), e outras funcionalidades foram incorporadas. Listei abaixo sete maneiras de usar o Gemini 3 que podem fazer você ganhar tempo e passar menos raiva com entregas capengas.
1. Entender PDFs longos em poucos segundos
O Gemini 3 ficou melhor em “contexto profundo”, que é a capacidade de ler documentos longos sem perder o fio da meada. Antes, dava uma travada (que ódio!) ou resumia demais quando enfrentava um relatório denso ou um artigo acadêmico. Agora, consegue manter referências internas, conectar trechos distantes e apresentar explicações claras sem virar sopa de palavras.
Na prática: PDFs de 80 páginas deixam de ser inimigos. O modelo sintetiza, compara seções, cria versões simplificadas e até reorganiza o conteúdo em tópicos úteis para estudo ou trabalho. Mas vale alertar que, nesse primeiro momento, a funcionalidade vai rolar apenas nos Estados Unidos (embora essas coisas não costumem demorar a chegar ao Brasil).
2. Resumir vídeos sem precisar assistir a tudo
O salto aqui vem da multimodalidade real: o Gemini 3 não apenas “lê frames”, ele relaciona imagem, texto na tela, áudio transcrito e contexto. Nas versões anteriores, o modelo entendia cenas isoladas, mas agora acompanha lógica narrativa e identifica trechos importantes.
Em outras palavras, você joga lá um vídeo de 20 minutos e recebe uma síntese que presta. Ele entende quem está falando, sobre qual assunto e os pontos principais.
3. Criar imagens úteis só com descrição
A geração de imagens sempre foi possível, e aqui na coluna montei um guia com dicas a respeito que fez maior sucesso (obrigado, leitores!). Agora, ganhou um upgrade, porque consegue ler as instruções com mais precisão e combina elementos visuais de forma mais consistente. A tendência, pessoal, é que cada vez seja mais impossível distinguir imagens de IA de imagens de gente de verdade. A gente que lute.
4. Revisar textos mantendo o seu jeito de escrever
Essa o pessoal que cria conteúdo no LinkedIn vai amar, porque pode eliminar os “posts de IA”. Não porque vão parar de fazer com IA, mas pela possibilidade de os textos terem mais a cara do autor (nesse caso, do autor do prompt). O Gemini 3 ficou mais sensível ao estilo: entende ritmo, intenção e estrutura, o que promete reduzir reescritas genéricas. Isso acontece porque a nova camada de raciocínio contextual avalia o texto como um todo, não frase por frase. Se um dia ele escrever melhor que eu, e isso infelizmente há de acontecer, vou ficar bem bravo.
5. Analisar planilhas com mais facilidade
Modelos anteriores até liam planilhas, mas o entendimento era raso: confundiam categorias, misturavam linhas ou tiravam conclusões genéricas demais. O Gemini 3 melhora ao interpretar relações entre células, padrões numéricos e variações ao longo do tempo — mérito do avanço em raciocínio lógico e matemático. Ou seja, você envia uma tabela e recebe análises decentes, como tendências, comparações, previsões simples e alertas sobre dados fora do padrão. Parece básico, mas economiza horas.
6. Montar roteiros prontos para usar
Sempre digo aos meus alunos de pós e dos cursos livres que eles precisam entender o que é um roteiro bom para serem capazes de avaliar os roteiros que as IAs entregam. Como saber se uma coisa é um lixo se você não tem parâmetro, certo? Ainda acredito nisso, mas o Gemini 3 pode criar histórias de maneira mais eficiente. Essa melhoria aparece no que a Google chama de “agentic capabilities”: a habilidade de executar tarefas em várias etapas. Por causa disso, o modelo consegue estruturar conteúdos com começo, meio e fim, alinhar público, objetivo e tom do material — coisa que antes exigia muita intervenção manual. Porém, essa modalidade aparece apenas em alguns planos nesse momento inicial.
Quer dizer: você pede um roteiro para vídeo, palestra, podcast ou aula e ele monta uma estrutura usável. Não é arte final, mas é um excelente ponto de partida. Vou testar com o meu podcast, o Aprenda em 5 Minutos.
7. Conferir informações antes de cair em cilada
Verificar fatos ficou mais confiável porque o modelo agora cruza melhor as fontes, compara versões diferentes da mesma informação e aponta incertezas. Isso acontece graças a melhorias de precisão factual e à capacidade de justificar a resposta com contexto adicional. Ou seja, ele ajuda a detectar inconsistências, evitar interpretações erradas e levantar alertas quando um dado parece suspeito. Não substitui jornalismo — embora muita gente torça contra essa profissão FUNDAMENTAL para a democracia — mas reduz o número de vezes em que você cai em uma mentira bem contada.
Antes de dar tchau, quero repetir uma coisa que vale para esse e todos os outros modelos de IA que existem no planeta Terra: por mais avançados e impressionantes que eles sejam, REVISE TUDO antes de mostrar para as pessoas, beleza?