Numa época em que muito se fala a respeito das problemáticas por trás da adultização infantil e do crescimento desenfreado do fenômeno das chamadas “Sephora Kids” — crianças adeptas às maquiagens e cosméticos diversos vendidos pela loja francesa ao público adulto —, investir na criação de uma marca de cuidados com a pele totalmente voltada para crianças parece ser uma jogada ousada e um tanto quanto inusitada, mas é justamente o que fez a atriz e empresária Shay Mitchell recentemente.
Conhecida por papéis em séries como Pretty Little Liars, You e Dollface, a artista apresentou um novo projeto no começo de novembro voltado exclusivamente para o público infantil: a marca de beleza Rini. Pensada para crianças de 4 a 12 anos, a iniciativa se trata de uma linha dermatológica que vende máscaras faciais veganas, sem fragrância e feitas com fórmulas à base de aloe vera e vitamina B12. Em entrevista a VEJA, a presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia – Regional São Paulo (SBD-RESP) Jade Cury falou sobre as questões éticas e dermatológicas envolvidas no autocuidado infantil.
“É necessário que as crianças sejam crianças de fato e não mini-adultos. Gerar essa adultização é muito preocupante, principalmente porque hoje em dia vemos que os adolescentes estão sofrendo muito mais com a depressão e grande parte disso tem a ver com as redes sociais”, explica a doutora. “Nisso, entra uma questão ética de impor esse uso de produtos de ‘skincare’, sendo que a criança não precisaria fazer nada disso. Ela tem que ser criança e brincar. Então, comercializar produtos do tipo para essa faixa etária que não precisa deles — e, além de tudo, é mais vulnerável à propaganda — é também uma questão de ética”, completa a médica.
Em relação à questão dermatológica, Cury esclarece que as crianças, no geral, não precisam de nada além de um higienizador suave e que o típico sabonete de bebê é suficiente. “O problema do uso indiscriminado desses produtos na infância é que a pele das crianças mais imaturas não tem uma boa barreira. Isso aumenta, e muito, as chances de que uma dermatite de contato alérgica seja provocada”, pontua.
O fenômeno das “Sephora Kids” já se revelou uma questão alarmante e que pode resultar em problemas dermatológicos. Segundo Cury, há inúmeros casos de crianças e adolescentes que compraram produtos adultos e inapropriados para sua faixa etária e apresentaram algum tipo de irritação na pele. A dermatologista ainda alerta para o fato de que, em casos mais graves, essas crianças podem ser submetidas a produtos com ácido e fotossensibilizantes, que podem desencadear reações à luz solar.
Cury também chama a atenção para uma outra questão relacionada ao uso desmedido de cosméticos pelo público infantil: a presença de substâncias e conservantes que podem afetar o sistema endócrino. “Esses disruptores alterariam, a longo prazo, ações cardiometabólicas, imunes, endocrinológicas e até mesmo de neurodesenvolvimento. Alguns estudos mostram que o QI de crianças que usam muitos produtos com esse efeito pode ser inferior, outras apresentam dificuldade na escola ou desenvolvem dermatite atópica, que é uma doença imune”, esclarece.
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