Nos últimos anos, o Banco Inter fez algo raro entre as fintechs latino-americanas: cresceu, internacionalizou-se e, ao mesmo tempo, aproximou-se silenciosamente de uma lucratividade. De um lucro praticamente nulo em 2022, o banco espera encerrar o ano atual com algo entre R$ 1 bilhão e R$ 1,5 bilhão, segundo o CEO, Alexandre Riccio, durante o Zoox Data Revolution, que aconteceu nesta terça-feira, no Hotel Unique, em São Paulo.
Em um setor em que a pressa por ganho de escala costuma eclipsar prudência regulatória, a instituição apresenta uma narrativa menos exuberante, e mais engenheirada. “Segurança é prioridade, mas não como barreira; é um processo de evolução contínua”, diz Riccio. A analogia não é gratuita. Operando em 44 estados americanos e prestes a expandir sua conta global para a Argentina, o Inter se vê diante de uma colcha regulatória complexa. Em vez de adaptar-se caso a caso, o banco decidiu construir um “framework mínimo de padrão de segurança” capaz de satisfazer simultaneamente múltiplos supervisores. Riccio descreve o arranjo como uma malha 360 graus: tecnologia, governança, times especializados e um uso extensivo de dados e IA para proteger tanto o cliente quanto o negócio.
Enquanto isso, a expansão segue em ritmo pouco usual para uma instituição que, até recentemente, ainda precisava provar que conseguia dar lucro. O banco alcançou 40 milhões de clientes e opera sob um plano de cinco anos, conhecido internamente como “60-30-30”, que traduz a meta de alcançar 60 milhões de clientes até 2027. A ambição não é apenas volumétrica: o Inter tenta abandonar o rótulo de startup de crescimento a qualquer custo para se tornar, nas palavras do CEO, uma “empresa de professional growth”. A virada começou em 2023, quando o foco deixou de ser pura aquisição e migrou para rentabilização. O banco que antes tinha 44 produtos, hoje oferece mais de 170 produtos.
O ambiente de fintechs amadurece rapidamente, o custo de capital voltou a importar e a concorrência dos bancos tradicionais ganhou novo vigor com suas próprias soluções digitais. Mas o caminho escolhido pelo Inter revela algo maior sobre o setor: a era do crescimento despreocupado acabou. Agora, é preciso crescer, só que com seguraça, compliance e um arcabouço regulatório sólido. O banco mineiro parece confortável nesse novo mundo. Para Riccio, “tudo muda o tempo inteiro”. O Inter, ao que parece, está tentando acompanhar essas mudanças.