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Pai da teoria dos limites climáticos veio à COP30 influenciar negociadores

Desconhecido da maioria da população e uma estrela no mundo da ciência, o sueco Johan Rockström é uma referência em aquecimento global e suas reais consequências. O pesquisador desenvolveu o conceito dos limites planetários, em 2009, uma estrutura que transformou a compreensão científica e pública sobre a sustentabilidade global, e os riscos ambientais, estabelecendo um “espaço operacional seguro para a humanidade” no planeta. Não por outro motivo, foi convidado a participar da COP30. Alocado em um pavilhão montado na Zona Azul, assumiu, com outros cientistas, a incumbência de esclarecer o tamanho da urgência de o mundo retroceder a emissão de gases provenientes da queima de combustível fóssil, imediatamente. A noção de que era possível explorar recursos sem limites ficou no passado. Hoje, com o planeta inteiro ocupado, não há mais espaço para atitudes insustentáveis. “As pessoas sabem sobre o perigo do aquecimento global, mas acham que não é a questão mais urgente do mundo”, disse Rockström em entrevista à Veja.”Ainda temos uma janela de oportunidade, mas ela se fecha em breve.” Em resumo, na concepção do cientista, já estamos em uma situação perigosa, em que a sobrevivência da sociedade está em jogo. Abaixo a conversa com o pesquisador. 

Gostaria de saber o que você achando sobre a COP 30?

A atmosfera é muito construtiva como já esperávamos em um evento presidido pelo embaixador André Correa do Lago, que tem uma equipe comprometida em transformar a COP em um mapa para acelerar a transição energética.  É o único jeito para impedir o overshoot e baixar a média da temperatura. Precismos diminuir o fluxo de combustível e cuidar da natureza. Esses são dois temas centrais aqui.

O que o senhor achou da COP30 ser realizada em Belém, nas proximidades da Floresta Amazônica?

Nós temos uma crise global. É muito urgente. Nós precisamos acelerar o caminho para um futuro seguro. Quando você pensa disso, eu acho positivo estarmos em Belém. Apesar dos desafios queo o lugar tem, o ambiente já é uma agenda global. Querendo ou não, os participantes  foram integrados aos temas relacionados com a Amazônia, com os ecossistemas e o seu papel. Isso não teria acontecido se estivéssemos em New York ou em Berlim, por exemplo.  Isso faz uma grande  diferença. Precisamos de uma discussão concreta para proteger a Floresta Amazônica, assim como as demais florestas tropicais, que não podem mais ser destruídas para a segurança da vida humana.

O senhor acha que as pessoas, em geral, não levam isso como uma questão científica séria? 

Temos muitas estatísticas e estudos que mostram que a maioria dos cidadãos, ao redor do globo, entendem e se preocupam com as questões do clima e a relação com a humanidade. No Brasil, países europeus , EUA, China e Índia, é consenso entre 60% e 70% da população. Mas, ao mesmo tempo, acham que há assuntos mais importantes, como o cuidado com as crianças, a educação, a saúde e a economia. Há, sem dúvida, muito o que fazer na sociedade. Obviamente que cuidar das crianças, por exemplo, é fundamental..Mas a questão climática coloca todos, sem exceção, em risco. Precisamos agir agora, antes que as consequências fiquem  incontroláveis. Antes que as economias sejam destruídas e vidas perdidas.  Por exemplo, as pessoas não conseguem enxergar o que está além do aquecimento de 1.5°C, limite do Acordo de Paris. Falta informação e comunicação. 

Mas a razão para não agirmos de acordo com a ciência não tem a ver com a questão das pessoas estarem cientes das questões climáticas. mas das pessoas considerarem que em algum ponto do futuro isso pode ocorrer de maneira lenta e que portanto não existe uma urgência.  E isso é um erro. 

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Isso explica a lentidão do mundo em relação às ações climáticas?

Sim, claramente é por isso que estamos agindo muito lentamente sobre a mudança climática. A segunda razão é, claro, que não tem nada a ver com os cidadãos. Tem a ver com o fato de que poucos atores, muito influentes, controlam as decisões políticas. O mundo está na mão de países que são os maiores emissores de carbono e nas mãos dos produtores de óleo e gás.

 

Estamos falando dos EUA, por exemplo?

Por exemplo, o maior produtor do mundo, que hoje tem um presidente que é negacionista do clima, e com uma administração que não se importa com o tema. Mesmo assim, aqui na COP30, os países estão dizendo que estamos avançando sem os EUA. Mas a posição de Trump não reflete a do país inteiro.Fomos procurados aqui no pavilhão por governadores americanos, que vieram a Belém, preocupados com as questões climáticas.  É um bom sinal. Querem estar mais perto da ciências para corrigir o caminho, que leva ao aquecimento solar. 

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A ciência ganhou maior destaque nesta edição da COP? 

Sim, pela primeira vez temos um pavilhão da Ciência Planetária. no meio da Zona Azul, para também oferecer apoio aos negociadores. Em geral, as COPs diferentes públicos ficam em alas diferentes e não se comunicam. A Zona Azul, onde acontecem as negociações, a Zona Verde, para a sociedade civil.  Precisamos de discussões mais integradas. A ciência precisa estar no centro de tudo, dando apoio, e embasando as decisões. Graças a essa administração estamos no centro dessa vez. Precisamos diminuir as emissões, em média, 5%, por ano. Só assim teremos uma chance. Neste cenário atingiremos um aquecimento entre 1,6 e 1,7°C, para então começarmos a desaquecer abaixo de 1,5°C.

Quais outras ações devem acompanhar essa redução ?

É preciso cuidar da natureza, para que o Amazonas e todos os outros sistemas permaneçam intactos. Além disso, o oceano também precisa ser manejado de forma sustentável. Precisamos da natureza, para mantermos a salvo a biodiversidade, para termos água fresca, indispensável para a saúde da terra e dos oceanos. Se fizermos isso, podemos minimizar a overshoot e voltar para um futuro seguro de 1.5°C. Ainda temos uma janela de oportunidade para agir, mas ela está se fechando. 

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