O mundo está perigosamente distante de cumprir seus compromissos globais de reduzir as emissões de metano, um poderoso gás de efeito estufa, de acordo com uma avaliação recente das Nações Unidas.
O relatório, divulgado nesta quarta-feira, 18, em meio às negociações climáticas da ONU em Belém, no Brasil, soa como um alarme e reforça a urgência de uma ação rápida e agressiva para sufocar as emissões do “superpoluente”.
A promessa, firmada por cerca de 160 nações no Pacto Global do Metano, exige um corte de 30% nas emissões até 2030, em comparação com os níveis de 2020.
O estudo, conduzido pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e pela Coalizão Clima e Ar Limpo (CCAC), afirma que, tecnicamente, cumprir essa meta “ainda é possível”, mas exige um esforço imediato e sem precedentes.
O metano é considerado a alavanca mais rápida para frear o aquecimento global, dado seu poder de aprisionar calor ser cerca de 80 vezes maior que o do dióxido de carbono nas primeiras duas décadas após ser liberado. Contê-lo é visto como essencial para evitar pontos de inflexão climáticos críticos.
Progresso Lento e o Risco de Elevação
A avaliação fornece um panorama sombrio do progresso nos quatro anos desde o lançamento do pacto. Embora o crescimento das concentrações atmosféricas de metano tenha desacelerado, as emissões continuam a aumentar.
As projeções do relatório indicam um cenário preocupante. Se as nações cumprirem apenas seus compromissos individuais de corte de emissões do Acordo de Paris e os planos nacionais de ação de metano existentes, as emissões globais de origem humana cairão apenas 8% até 2030.
Em um cenário menos ambicioso, que reflete apenas as políticas em vigor, o metano está previsto para aumentar 5% até o final da década.
Para atingir a ambiciosa meta de 30%, o estudo detalha que os países teriam que implementar totalmente as opções tecnicamente viáveis nos setores de energia, agricultura e resíduos.
Isso inclui desde medidas de gestão hídrica no cultivo de arroz e sistemas de recuperação de gás em aterros sanitários, até o tamponamento de poços de petróleo e gás abandonados.
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O Debate do Tratado Global
A lentidão na ação gerou frustração e reacendeu apelos por um tratado global do metano, um acordo juridicamente vinculante modelado pelo sucesso do Protocolo de Montreal, que ajudou a eliminar gases que destroem a camada de ozônio.
Líderes como a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, e o presidente francês, Emmanuel Macron, endossaram a busca por “objetivos vinculantes”. Contudo, ambientalistas argumentam que o longo processo diplomático para forjar um novo tratado desviaria tempo e atenção preciosos da luta urgente para implementar as ações agora.
“A questão do metano é sobre arregaçar as mangas e fazer o trabalho. Não está claro para mim que um tratado tornaria isso mais fácil”, ponderou Mark Brownstein, vice-presidente sênior do Environmental Defense Fund. A organização aponta que políticas de controle de emissões em equipamentos de campos de petróleo, como as implementadas no Novo México, já provaram ser eficazes, equivalendo a uma redução de 1% nas emissões globais do setor de óleo e gás.
Custos e Vantagens
Apesar da inação, o potencial de mitigação permanece. O setor de energia, por si só, poderia entregar uma redução de até 86% nas emissões de metano até 2030.
O relatório do PNUMA estima que, embora a implementação das medidas mais abrangentes custe cerca de $127 bilhões anuais, elas gerariam benefícios significativos, avaliados em $330 bilhões por ano até 2030, além de prevenir 19 milhões de toneladas de perdas de colheitas.
O mundo está em uma encruzilhada crítica.
O relatório sugere que, embora a concretização das promessas existentes traga reduções significativas, as emissões continuarão a subir se os países falharem em promulgar políticas mais rigorosas. A meta de 30% pode estar ao alcance técnico, mas o tempo para a ação decisiva está se esgotando.