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COP30: Brasil tem com agronegócio vulnerável e travado em gargalos estruturais, aponta estudo

O Brasil chega à COP30, em Belém, com um discurso de liderança climática que contrasta com gargalos estruturais ainda profundos no setor agropecuário. Apesar do potencial para se consolidar como potência agroambiental, o país opera abaixo de sua capacidade produtiva e permanece vulnerável à variabilidade climática. Um estudo recém-lançado pela Systemiq revela que apenas 1% da área agropecuária é irrigada — proporção considerada crítica diante do aumento da irregularidade de chuvas. Embora existam até 55 milhões de hectares com potencial de irrigação, a expansão esbarra na escassez hídrica em várias bacias, nos altos custos de investimento e energia e na demora da outorga de uso da água, fatores que geram incerteza jurídica e limitam decisões de longo prazo. Para a sócia-presidente da Systemiq, Patricia Ellen, a irrigação deixou de ser diferencial competitivo e passou a ser questão de sobrevivência econômica: sem sistemas eficientes, o país não sustenta produtividade nem reduz riscos.

O relatório também destaca que 60% das pastagens brasileiras estão degradadas, o que reduz margem, pressiona custos e eleva risco climático. A recuperação dessas áreas é vista por economistas como a intervenção de maior retorno, capaz de elevar produtividade sem ampliar fronteira agrícola, melhorar balanço de carbono e destravar investimento privado. Em um cenário de transição ecológica global, o Brasil poderia converter essa frente — hoje um passivo — em ativo estratégico para atrair financiamento climático e reduzir pressões comerciais de grandes compradores, como União Europeia e China.

A fragilidade da assistência técnica rural, porém, compromete qualquer avanço. Hoje, 78% das propriedades com até 100 hectares não têm acesso a ATER, o que reduz produtividade em até 50%, encarece a produção pela má utilização de insumos e impede adequação ao zoneamento agrícola. A falta de orientação limita a entrada em mercados organizados e a obtenção de crédito e seguro rural. Segundo Ellen, sem assistência técnica integrada ao crédito e ao manejo climático, o pequeno produtor compete com desvantagem estrutural e se torna mais vulnerável a perdas.

A assimetria regional do crédito rural amplia o desequilíbrio econômico. Embora a agricultura familiar seja responsável por cerca de 70% dos alimentos consumidos no país, apenas 13% dos recursos do PRONAF chegam ao Nordeste, justamente a região mais afetada pela variabilidade climática. O Sul, que concentra 60% das linhas de financiamento, segue privilegiado por contar com documentação, estrutura produtiva e cadeias consolidadas. Economistas alertam que essa concentração distorce alocação de risco e impede que regiões mais vulneráveis adotem tecnologias básicas de adaptação. Para especialistas, o desafio não é apenas aumentar o montante do PRONAF, mas direcionar recursos para quem enfrenta maior restrição de acesso e maior impacto potencial.

O seguro rural segue o mesmo padrão: a soja concentra quase 38% das apólices, enquanto culturas essenciais para a segurança alimentar — como arroz, feijão e café — somam menos de 8%. A baixa cobertura gera volatilidade de renda e obriga produtores a absorver perdas, o que limita investimento e trava mudanças tecnológicas. Sem redes de proteção, a economia rural opera com risco elevado e menor previsibilidade, cenário agravado pela tendência de estiagens prolongadas, que pode derrubar em até 80% a produção de milho safrinha em 258 municípios até 2050, segundo projeções da FGV Agro.

O governo enxerga na COP30 uma oportunidade dupla: pressionar por mais financiamento internacional para adaptação e apresentar o país como plataforma de agricultura de baixas emissões. A aposta é que a diplomacia climática possa aliviar disputas comerciais e atrair capital para modernização produtiva. Para especialistas, no entanto, o país só irá consolidar essa posição se avançar em três frentes: destravar irrigação eficiente, reequilibrar crédito e assistência técnica e acelerar a recuperação de pastagens. Sem isso, o Brasil corre o risco de chegar à conferência com discurso ambicioso, mas incapaz de responder às fragilidades econômicas que moldarão o futuro do campo em meio ao aquecimento global.

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