Depois de recuperar a popularidade perdida no início do ano e aproveitar a maré positiva provocada pela queda no preço dos alimentos e a reação ao tarifaço anunciado por Donald Trump, o presidente Lula recebeu nos últimos dias uma leva de notícias negativas.
Devido à repercussão da operação policial realizada no Rio de Janeiro contra o Comando Vermelho, que devolveu para o centro do debate político a questão da segurança pública, um conhecido ponto de fragilidade do governo, a recuperação da imagem da gestão petista foi interrompida. Além disso, Lula viu cair sua vantagem sobre os adversários nas simulações eleitorais.
Pesquisa Genial/Quaest mostrou que a desaprovação ao governo, que diminuía desde maio, subiu de 49% para 50%, entre outubro e novembro, enquanto a aprovação baixou de 48% para 47%. O levantamento também revelou que a diferença do presidente para possíveis rivais em eventual segundo turno se estreitou.
Contra Bolsonaro, que está inelegível e condenado à prisão, mas tenta recuperar os direitos políticos e a liberdade, Lula venceria por apenas três pontos percentuais, sete a menos do que em outubro. Contra Ciro Gomes, a vitória seria por cinco pontos, e não mais nove, como no mês anterior. E contra Tarcísio de Freitas, o presidente ganharia por cinco pontos, ante doze na rodada passada.
É a economia, candidatos
A colheita de dados ruins poderia ser pior não fosse um indicador relevante na economia — relevante para o bolso dos eleitores e para o desempenho do candidato à reeleição. De acordo com a Genial/Quaest, caiu de 63% para 58% o total de entrevistados que dizem que o preço dos alimentos subiu no último mês.
Em março, esse percentual era de 88% e explicava — junto com a campanha da oposição que acusava o governo de planejar taxar o Pix — o derretimento de imagem do presidente. Desde então, houve uma redução expressiva no mau humor do eleitorado com a carestia da comida.
A percepção de que a conta está mais barata decorre de vários fatores, da desvalorização do dólar aos juros praticados pelo Banco Central. Como fazem desde sempre, Lula e o PT acusam a autoridade monetária de arrochar demais na definição da taxa básica de juros, a Selic, hoje em 15% ao ano. Eles alegam que a autoridade monetária joga contra a economia brasileira. A crítica não poupa nem Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente para comandar a instituição.
Em outubro, a inflação foi de 0,09%, a menor variação para o mesmo mês desde 1998. Ou seja: graças, entre outros, à atuação do BC, o custo de vida está baixando. Se esse processo continuar, Galípolo poderá repetir Henrique Meirelles, presidente do BC nos dois primeiros mandatos de Lula.
Meirelles também apanhava com frequência dos petistas, mas sempre que podia lembrava que era responsável direto pela popularidade e as vitórias eleitorais de Lula, porque controlava a inflação e o preço da comida. Parece pouco, mas não é.
Fernando Henrique Cardoso venceu duas eleições por ter domado o dragão inflacionário. Já os democratas perderam a presidência para Donald Trump porque os americanos estavam descontentes com os preços, que continuam altos e agora se voltam contra o republicano. Em períodos eleitorais, o custo de vida pesa — e muito.