O cenário ainda é incerto, mas advogados que atuam nas ações penais da trama golpista e que mantêm contato acadêmico e profissional com o procurador-geral da República Paulo Gonet afirmam que, ainda no início do primeiro mandato à frente do comando do Ministério Público da União, ouviram dele a avaliação de que a prisão humanitária ao ex-presidente Jair Bolsonaro seria um caminho lógico a ser tomado. Embora impopular, a opinião é compartilhada por integrantes da área jurídica do governo Lula, que consideram que o quadro clínico do adversário é conhecido e que o cumprimento de pena em regime domiciliar estaria respaldado por lei.
Gonet, por óbvio, não se manifesta em público sobre o assunto, que ganhou ares de apreensão depois que uma integrante do gabinete do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes visitou instalações do presídio da Papuda, em Brasília. Assim como ocorreu com o ex-presidente Fernando Collor, que foi levado a um presídio de Alagoas antes de passar a cumprir em casa a pena por corrupção na Lava-Jato, Bolsonaro poderia ter de passar uma breve temporada na cadeia antes que os apelos em prol na domiciliar fossem analisados por Moraes, a quem caberia dar a palavra final.
Aprovado em votação apertada para um segundo mandato como procurador-geral, Paulo Gonet rebateu em sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado acusações de que tocaria de ouvido com o ministro do STF na trama golpista, disse que “a tinta que imprime as peças produzidas pela Procuradoria-Geral da República não tem as cores das bandeiras partidárias” e lembrou que já pediu o arquivamento de casos ligados ao ex-presidente, como as suspeitas de fraude em cartões de vacinação.
Também fomenta a esperança de bolsonaristas as decisões recentes do ministro Alexandre de Moraes em pedidos de prisão humanitária. Além de Collor e do ex-deputado Roberto Jefferson, que protagonizou ataques diretos ao STF e a policiais federais que cumpriam ordens judiciais contra ele, homens e mulheres condenados a mais de uma década de cadeia na esteira dos atos de 8 de janeiro que comprovaram ter doenças graves foram autorizados pelo magistrado a cumprir suas penas em casa.