O Ministério Público da Bahia (MP-BA) denunciou 24 acusados de participação de uma rede criminosa de tráfico de animais silvestres — o que inclui espécies em extinção. O grupo ainda responderá judicialmente por lavagem de dinheiro, receptação qualificada e maus-tratos. Dos denunciados, 14 são da Bahia, seis do Rio de Janeiro, três de Minas Gerais e um do Espírito Santo.
De acordo com informações da Promotoria baiana, “entre os denunciados estão fornecedores, receptadores e transportadores da organização criminosa liderada por Weber Sena de Oliveira, conhecido como ‘Paulista‘, cuja rede de atuação abrange principalmente os estados da Bahia, Minas Gerais e Rio de Janeiro, com algumas ramificações no Espírito Santo. O grupo, segundo as denúncias, é formado por 14 fornecedores (dez deles com atuação na Bahia), cinco receptadores, três transportadores e uma operadora financeira”. A defesa de Paulista não foi encontrada. O espaço está aberto para manifestação.
Investigação do Gaeco baiano aponta movimentação financeira ilícita em torno de 500 mil reais apenas entre fevereiro e agosto de 2023 em uma das contas bancárias da mulher de Paulista. Ela é apontada como a operadora financeira da organização criminosa, responsável por receber os depósitos pela entrega das encomendas, que chegavam a conter mais de 1.000 pássaros de uma vez, e de realizar os pagamentos aos fornecedores do sudeste e norte da Bahia e nordeste de Minas Gerais. As apurações apontam, segundo o MP, que parcela significativa das transferências bancárias partiu de terminais de autoatendimento da cidade de Magé, no Rio de Janeiro, onde reside Valter Nélio, conhecido como “Juninho de Magé”, também acusado de lavagem de dinheiro pela promotoria.

Modus operandi
Aves como estevão, canário, chorão, papa-capim, trinca-ferro, azulão e pássaro preto eram capturados, com utilização de armadilhas e redes de 20 metros de comprimento que possibilitavam apreender até 500 passarinhos em um único dia. Há registros de venda de aves por 80 mil reais.
O MP sustenta ainda que os animais eram alojados em cativeiros provisórios “de extrema precariedade e sem alimentação suficiente”, onde as aves aguardavam por muitos dias a chegada de Paulista, responsável por colocá-las em veículos de passeio e caminhões para remetê-las, em sua maior parte, ao estado do Rio de Janeiro e a Salvador. A promotora de Justiça Aline Salvador destaca que dados da Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (Renctas) indicam que 90% dos bichos capturados não sobrevivem durante o transporte, morrendo por maus-tratos, estresse ou condições precárias.
Duas décadas de perseguição
Para o MP-BA, Paulista lidera o bando responsável por traficar aves silvestres. Ele estava sendo procurado pelas autoridades públicas há 20 anos e foi preso durante uma blitz na rodovia BR-101, em janeiro deste ano, nas proximidades de Itabuna, Bahia. “A prisão em flagrante, por transporte ilegal de 135 pássaros, colocou o maior traficante de aves silvestres do país no centro das investigações do MP-BA”, informou a Promotoria.