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Quem paga a conta: COP30 consolida o protagonismo do capital privado no esforço climático

Na abertura da COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, na segunda-feira 10, em Belém (PA), comemorou-se a aprovação de uma agenda consensual de pontos a ser negociados. Pode parecer banal, mas foi um feito significativo. Em nenhuma das últimas quatro COPs se conseguiu aprovar a agenda no primeiro dia, o que atrasou os trabalhos. Quatro tópicos sensíveis, no entanto, ficaram de fora e passaram a ser discutidos em “consultas informais” entre as delegações dos países. Um deles é o tema do financiamento. Um grupo de países, no qual se inclui o Brasil, quer ampliar de 300 bilhões para 1,3 trilhão de dólares o montante que as nações ricas devem destinar todos os anos para a redução de emissões de gases de efeito estufa e para a adaptação climática nas regiões menos desenvolvidas do globo. Há resistências de todo tipo. Um dos nós da questão é como atrair mais recursos privados para os mecanismos oficiais de financiamento.

arte COP30

A verdade é que a iniciativa privada já paga a maior parte da conta das ações climáticas. Para além dos fundos vinculados à COP, existem muitos outros instrumentos financeiros dedicados ao tema. No total, 65% dos recursos destinados ao financiamento climático vêm de investidores ou doadores privados (veja o quadro). A distribuição desse dinheiro, no entanto, nem sempre alimenta projetos em países emergentes. Mas esse cenário está mudando rapidamente, mesmo sem estímulos públicos, pela simples lógica de retorno financeiro que rege o mercado. Segundo uma estimativa da ONG Natural Resources Defense Council, se continuar no ritmo atual de crescimento, o volume de recursos privados para projetos climáticos nos países em desenvolvimento vai aumentar 2,7 vezes até 2030.

A participação de empresas e entidades setoriais na COP30 demonstra que a iniciativa privada já virou a chave da transição climática. “Se, para a humanidade, meio ambiente e clima são um tema de desenvolvimento socioeconômico sustentável, para as empresas é também questão de competitividade”, diz o empresário brasileiro Dan Ioschpe, Campeão de Alto Nível para o Clima da COP30, cargo ligado à ONU que tem a missão de mobilizar empresas e a sociedade civil em torno das metas do Acordo de Paris. “Não para de pé a ideia de que não haverá custos relacionados à emissão de carbono ou que não existirão oportunidades decorrentes de novas tecnologias e de formas de fazer as coisas de um jeito mais sustentável.”

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Na linguagem corporativa, a virada de chave das empresas é descrita por duas expressões: proteção de valor e geração de valor. “Um exemplo de como a proteção de valor entra na estratégia das companhias são episódios como o tornado no Paraná, que exigem entender os cenários climáticos futuros para garantir a perenidade do negócio”, diz Felipe Salgado, sócio da consultoria KPMG no Brasil, referindo-se ao recente drama ocorrido no estado do sul do país. Já a geração de valor está ligada à capacidade de transformar a agenda de descarbonização — como a redução das emissões de gases de efeito estufa — em vantagem competitiva, seja por diminuição de custos, inovação ou criação de novas fontes de receita.

EFICIÊNCIA - Unidade da Suzano na cidade de Ribas do Rio Pardo (MS): redução de cerca de 80% nos custos com energia
EFICIÊNCIA - Unidade da Suzano na cidade de Ribas do Rio Pardo (MS): redução de cerca de 80% nos custos com energiaSuzano/Divulgação

Um exemplo de geração de valor vem da empresa de papel e celulose Suzano, que investiu em uma fábrica em Ribas do Rio Pardo (MS) movida por um processo termoquímico que converte a biomassa (material orgânico, como resíduos de madeira) em uma mistura de gases combustíveis. Com isso, houve uma redução de 97% no consumo de derivados de petróleo e uma economia superior a 82% nos custos de energia. Já um caso de proteção de valor é o da petroquímica Braskem, que precisou paralisar as atividades de suas unidades no Rio Grande do Sul durante a enchente que afetou o estado no início de 2024. “Além de termos reduzido as emissões anuais em 1,1 milhão de toneladas de carbono desde 2020, a adaptação aos extremos climáticos também é um tema estratégico para nós”, diz Jorge Soto, diretor de desenvolvimento sustentável da Braskem.

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DESTRUIÇÃO - Rio Bonito do Iguaçu (PR) após tornado: riscos para empresas
DESTRUIÇÃO - Rio Bonito do Iguaçu (PR) após tornado: riscos para empresasDaniel Castellano/AFP

Empresas que incorporam a agenda climática em suas estratégias são mais valorizadas pelos investidores, por serem vistas como capazes de atenuar riscos, reduzir custos e gerar novas receitas. “Essas companhias também são as mais preparadas para se adequar a novas leis e regulamentações ambientais”, diz Jessica Rosani, gerente de sustentabilidade da B3. A partir de 2027, todas as empresas listadas em bolsa no Brasil precisarão divulgar relatórios de riscos e oportunidades financeiras relacionadas à sustentabilidade. Neste ano, duas se anteciparam à obrigação e apresentaram seus documentos: a mineradora Vale e a rede de varejo de moda Renner. “Nossa iniciativa teve uma recepção muito positiva do mercado”, diz Regina Durante, vice-­presidente de Gente e Sustentabilidade da Renner. As empresas que pagam a conta da transição climática têm mais chances de sobreviver e prosperar em um mundo em transição.

Publicado em VEJA de 14 de novembro de 2025, edição nº 2970

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