As investigações da Polícia Federal que levaram o ministro André Mendonça, do STF, a autorizar prisões e mandados de busca e apreensão contra envolvidos em fraudes no INSS mostram que o esquema funcionava de modo organizado, com controle de caixa e planilhas de propina codificadas para esconder os nomes dos servidores e políticos que recebiam dinheiro roubado de aposentados.
Os investigadores descobriram que a Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais, conhecida como Conafer, faturou 708 milhões de reais a partir do esquema de descontos ilegais em benefícios de milhões de aposentados. Desse total, 640 milhões foram parar em empresas de fachada e contas de operadores do esquema de corrupção.
Mensagens obtidas pelos investigadores mostram que os criminosos do núcleo financeiro e dirigentes da entidade organizavam as contas do esquema em planilhas. Cada beneficiário de propina tinha um apelido:
“Herói A” era o apelido de André Fidelis, ex-diretor de Benefícios e Relacionamento com o Cidadão. Já “Herói V”, ex-procurador do INSS, era como estava identificado Virgílio Oliveira Filho. “Italiano” era o apelido do ex-presidente do INSS Alessandro Stefanutto. Todos os três foram alvos da ação da PF nesta quinta.
O deputado federal Euclydes Pettersen estava registrado na planilha como “Herói E”. Segundo a PF, ele recebia propina por meio de um intermediário, segundo revelam mensagens de WhatsApp obtidas pela PF.
Os investigadores cruzaram as informações de valores depositados e as datas nas planilhas com a movimentação bancária, confirmando o fluxo de dinheiro sujo entre os investigados.
Virgílio Oliveira Filho, por exemplo, recebeu, de forma reiterada, propinas que somam 6,5 milhões de reais, entre 2022 e 2024, por meio de empresas de fachada.
André Fidelis recebeu, por sua vez, 3,4 milhões de reais em propina da Conafer entre 2023 e 2024.
Ex-presidente do INSS, Stefanutto recebia, segundo a PF, uma mesada de 250.000 reais do esquema. Os pagamentos foram efetuados entre junho de 2023 e setembro de 2024.
O deputado Euclydes, por sua vez, teria recebido do esquema 14,7 milhões de reais por diferentes canais de pagamento, segundo a PF.
“A investigação constatou, ainda, que a entidade atuava como uma organização criminosa estruturada, composta por dirigentes, operadores financeiros, empresários e agentes políticos, todos com papéis definidos na engrenagem da fraude”, diz a investigação.