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Morte de influenciadora mostra tragédias africanas, vistas até do espaço

Jovem, bonita e popular – 90 mil seguidores no TikTok -, Mariam Cissé também apoiava as forças do governo envolvidas numa prolongada guerra civil com movimentos rebeldes. Por causa disso, foi agarrada durante uma transmissão ao vivo numa feira e, no dia seguinte, executada em praça pública por militantes islâmicos radicais, unanimemente chamados de jihadistas.

O caso aconteceu em 6 de novembro, num local muito distante do Mali e só se tornou de acesso geral agora. O irmão de Mariam assistiu sua morte. Um informante dos serviços de segurança disse que a jovem de 22 anos, que usava fardas camufladas para expressar apoio às forças do governo, foi acusada pelos jihadistas de filmá-los para passar a informação aos inimigos. Foi levada de moto para ser executada na ironicamente chamada Praça da Independência.

As guerras civis são uma praga recorrente em países como o Mali e, mais do lado do leste africano, Sudão, Sudão do Sul, Etiópia, para ficar nos piores casos. Agora ressurgiram no noticiário por causa das atrocidades hediondas cometidas contra a população civil na cidade sudanesa de El Fasher, onde a matança foi tanta depois da queda das forças do governo que aparece em imagens feitas por satélite. Mostram corpos tombados juntos, em típicas cenas de execução, em vários pontos da cidade e áreas do solo arenoso empapadas de sangue.

Os jihadistas do Sudão são árabes de tribos nômades, negros como o resto da população. Integravam um braço armado chamado Força de Apoio Rápido, criada pelo governo da época para combater uma insurreição. Vitoriosos, passaram a buscar o poder para si próprios. Seguem a ideologia islamista radical e são chamados pela população de Janjaweed, o “mal a cavalo” ou “cavaleiros do mal”. Devido aos acontecimentos no Oriente Médio, alguns os chamam de Hamas.

Apesar de fundamentalistas, seguem o princípio da igualdade em suas matanças: eliminam igualmente muçulmanos que não sigam suas ordens e cristãos.

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NA PONTA DE UM FUZIL

A ascensão do radicalismo islâmico é um fenômeno introduzido de fora para dentro na África e criou extrema instabilidade para as populações cristãs na região do Sahel e até além dele, em países como a Nigéria. O sequestro de meninas e jovens mulheres, para que se convertam e casem com os militantes, e as seguidas chacinas tornaram-se, lamentavelmente, parte da paisagem. Os estupros também são uma prática constante, com casos entre mulheres cristãs de cacos de vidro inseridos nos genitais. É difícil falar ou escrever sobre esse tipo de monstruosidade, mas é importante saber que está acontecendo.

Os conflitos de origem religiosa são um dos componentes das guerra civis, mas pesam também os atritos étnicos e a pura e simples busca pelo poder em países onde todos os governantes chegam a ele na ponta de um fuzil.

Depois, têm que se manter nele da mesma maneira. Só no Sudão se calcula que foram mortas 120 mil pessoas desde que começou a fase atual da guerra civil, em 2023.

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No Mali, que tem extraordinárias construções históricas feitas de tijolos crus, atestando seu passado como rota comercial importante, a guerra civil vem desde 2012 e começou com uma rebelião de tuaregues. O governo na época pediu a ajuda da França, mas as mudanças no poder acabaram com a malfadada experiência. Quem está lá agora são os russos, pertencentes ao Grupo Wagner, agora operando sob novo nome de fantasia.

No momento, o país todo vive uma grave crise de combustíveis, depois que os rebeldes sequestraram caminhoneiros e incendiaram mais de cem caminhões-tanque, interrompendo o abastecimento.

‘PIX DA LIBERDADE

Casos como a execução de Mariam Cessé rompem a bolha habitual por envolver uma jovem bonita e dedicada a uma atividade que parece em tudo o oposto da brutalidade com que sua curta vida terminou.

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Fazer posts alegres, animados e likeados pelos seguidores no TikTok é parte do universo de todos as influenciadores do mundo, mas na vida real Mariam vivia numa esfera de brutalidade e violência extremas.

No Sudão, o mundo de hoje e o passado de sangue também se misturam. Um sobrevivente dos massacres em El Fashir contou que as pessoas em fuga enfrentaram perseguições, espancamentos, execuções e extorsões no caminho em busca de alguma segurança.

A certa altura, os rebeldes exigiram que cada um dos refugiados pagasse dez milhões de libras sudanesas – quase vinte mil reais – para serem liberados. Os presos tiveram duas horas para procurar parentes e amigos pelo celular que bancassem o “pix da liberdade”. Só quatro, de um grupo original de 200 pessoas, conseguiram.

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