A cantora Fafá de Belém ia fechar a Cúpula de Líderes da COP30, que ocorre em Belém. Na última hora, teve de mudar de planos. Acabou entoando a música Amazônia, na abertura da reunião entre as partes, ocorrida na segunda-feira. Nessa entrevista exclusiva a VEJA, porque os planos mudaram e os bastidores do encontro com o presidente Lula, a quem conhece desde antes da fundação do PT.
O que levou às mudanças de planos na COP30? Na sexta-feira, dia do fechamento, caiu um toró. Belém é assim, não é brincadeira. Poucos líderes retornaram do almoço. Eu estava com a ministra Margarete Menezes, no camarim, combinando as nossas entradas que seriam uma surpresa para os delegados. A primeira dama, Janja veio até a gente informar que muitos ja haviam ido embora. Depois chegou o presidente Lula e acabamos mudando.
A senhora o conhece há quanto tempo? O PT se reunia na minha casa, em São Paulo. Quem me apresentou o Lula foi o cartunista Henfil, em 1982, que pediu para o partido, que ainda não havia sido formado, se reunir na minha casa. Não via o Lula desde as eleições. Mariana, minha filha que o conhecia desde os três anos de idade, o chamou de presidente e ele estranhou. Aí ela disse: “então vou chamar de tio Lula”.
Mas aí a senhora teve de se contentar com a abertura… Não era previsto eu falar, mas me deram o microfone. Agradeci porque uma coisa é você estudar a Amazônia, se preocupar com a floresta, ter ideias e soluções. Outra coisa é você estar aqui, aprendendo com quem dá um jeito para sobreviver, aprendendo com quem não polui. Nós vivemos um momento de renascimento do Pará, que foi afastada do Brasil desde o fim do ciclo da borracha, quando os ingleses passaram a planta seringueiras na Malásia.
A senhora se tornou amiga da primeira dama? Não,chega a tanto. Amiga é aquela pessoa que pega o telefone e diz: “Vamos tomar um tacacá, um sorvete?”. Eu não posso dizer que eu tenho essa intimidade. Mas Janja sempre foi muito gentil. A primeira vez que veio ao Pará foi no segundo turno das eleições presidenciais. Chamei-a para ficar com a gente na Varanda, em Nazaré.
A senhora é uma das representantes de uma geração de mulheres que lutou por direitos
igualitários, liberdade sexual, e independência financeira. Como vê o crescimento movimentos conservadores entre o público feminino? Quando fui revelada, há 50 anos, e cheguei com decote, cintura, formas femininas brasileiras, amazônicas, foi um susto no sudeste. Porque o padrão de beleza era europeu. Eu não sou ninguém para dar ordem para ninguém, mas a defesa desse corpo, onde você se sinta confortável é primordial para que a mulher se sinta segura na vida. Agora, esse modelo de sociedade careta e repressiva foram resgatar no autoritarismo. Se a opção da mulher é ser submissa e se ela achar melhor fechar os olhos para as violências que passa todos os dias, aí pelo amor de Deus, só com terapia.