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Nem inflação de quase zero em outubro anima as expectativas do mercado para o futuro

O IPCA, o indicador oficial de inflação do Brasil, teve uma alta quase simbólica em outubro, de apenas 0,09%, conforme os dados divulgados nesta terça-feira pelo IBGE. Trata-se da menor variação para o mês em quase trinta anos e, com ela, a inflação acumulada em 12 meses, desacelerou de 5,17%, na leitura de setembro, para 4,68% agora. É ainda longe, mas consideravelmente mais perto do teto da meta de inflação que deve ser cumprido, que é de alvo central em 3% e um limite máximo de até 4,5%.

Isso até colabora para engrossar o coro crescente de analistas que já acreditam que a inflação conseguirá encerrar 2025 ao menos dentro do teto, algo impensável até alguns meses atrás. Ainda assim, muitos economistas continuam céticos quanto a uma melhora consistente da inflação e sua convergência para o centro da meta, onde deveria estar, e o resultado de outubro pouco muda as perspectivas de que a Selic, a taxa de juros básica controlada pelo Banco Central, só deve ter espaço para começar a cair no início do ano que vem.

“Apesar de um resultado abaixo do esperado, as pressões inflacionárias continuam intensas”, apontou Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para a América Latina do banco americano Goldman Sachs, em relatório a clientes. Ele menciona a inflação dos serviços, que, descolada dos alimentos, que estão em deflação com a ajuda das quedas do dólar neste ano, ainda estão rodando na faixa dos 5,6%.

“O pano de fundo de uma dinâmica de inflação ainda desafiadora, expectativas de inflação desancoradas para o curto e o médio prazo, um hiato do produto positivo [situação em que a atividade da economia está correndo acima de seu potencial], mercado de trabalho apertado, estímulos fiscais e de crédito contínuos e projeções para a inflação acima da meta em um horizonte relevante demandam uma calibragem conservativa da política monetária no curto prazo”, escreveu. O Goldman Sachs ressalta, porém, que os efeitos dos juros altos estão aparecendo nos indicadores, o que “está criando gradualmente as condições para o começo de uma normalização moderada do ciclo no começo de 2026”. Ou seja: O BC pode começar a cortar os juros aos poucos nos primeiros meses do ano que vem.

O banco C6 é um dos que, após os novos resultados do IPCA nesta manhã, deve rever suas projeções e colocar sua expectativa para a inflação de 2025 para dentro do teto. “Diante das recentes surpresas para baixo, devemos revisar nossa projeção para o IPCA de 2025, que hoje é de 5%, e vemos a possibilidade de terminarmos o ano com a inflação dentro do intervalo de tolerância da meta”, escreveu, em nota, Claudia Moreno,  economista do banco. A melhora, de acordo com ela, teve ajuda do câmbio, que permitiu que os preços dos alimentos e dos bens industriais tivessem recuos importantes ao longo dos últimos anos.

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O retrato, entretanto, não muda muito o quadro de inflação ainda persistente nas outras frentes no próximo ano. “Para 2026, nossa expectativa é de um IPCA mais pressionado, impulsionado pelo mercado de trabalho aquecido e pela nossa projeção de um dólar mais forte à frente, e os dados reforçam a nossa expectativa de que a taxa Selic seja mantida em 15% até o fim de 2025, com início do ciclo de cortes em março do ano que vem.”

A análise do economista José Francisco de Lima Gonçalves, professor da escola de economia da Universidade de São Paulo (FEA-USP), é semelhante. “Trata-se de mais um dado baixo que esconde os núcleos ainda incômodos”, disse. Os núcleos são manipulações estatísticas feitas sobre o resultado do IPCA que retiram da conta os itens mais voláteis ou com variação atípica no mês, e servem de uma espécie de guia de qual é, de fato, a inflação real. A variação média deles foi de 0,23% em outubro, de acordo com Gonçalves, mais que o dobro do 0,09% do resultado oficial. “Há pouco que ajude de modo relevante a reforçar a lenta desinflação em curso”, afirmou o economista.

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