A ata divulgada nesta terça-feira, 11, reforçou o tom ortodoxo do Banco Central e a promessa de juros altos “por período prolongado”, mas trouxe nuances que fizeram analistas enxergar os primeiros sinais de transição rumo ao corte da Selic em 2026.
Para Rafael Sueishi, head de renda fixa da Manchester Investimentos, o documento mostra um BC ainda rígido, mas mais confiante de que a política monetária começa a surtir efeito. “A ata do Copom foi complementar ao comunicado, a continuidade de um tom mais duro, um Banco Central ortodoxo. O BC, ainda que reconheça sinais de melhora no balanço de riscos, mostra uma autoridade monetária bastante convicta de que a inflação ainda é um desafio”, diz.
Segundo ele, o texto indica que a estratégia de aperto começa a cumprir seu papel. “Apesar do Banco Central deixar a porta aberta para o caso de ser necessário novos apertos, novas altas, ele mostra que essa política monetária tem surtido efeito e o fim do ciclo, pelo menos de alta, fica cada vez mais claro.”
Sueishi ressalta que, mesmo diante desse avanço, o tom geral ainda é de cautela. “Na expectativa de inflação, o Comitê observa que ainda permanecem desancoradas, que o cenário fiscal é bastante incerto, pode ser um fator de elevação do juro neutro e dificultar a convergência. Por isso, o Banco Central acaba reforçando o recado de que a Selic deve permanecer em 15% por período bastante prolongado”, disse.
Ainda assim, ele avalia que há espaço para uma interpretação mais otimista. “Cabe espaço para uma interpretação do mercado que o Banco Central está mais perto do fim do ciclo e do início do corte de juros. Tanto a ata quanto o comunicado deixam o Banco Central ‘data dependente’, ou seja, aberto a novos passos à medida que os dados confirmem uma desaceleração gradual da economia.”
A mesma leitura é feita por André Valério, economista sênior do Inter. Ele diz que, embora o Copom mantenha o tom firme, o texto traz um elemento novo: maior confiança de que o juro atual já é suficiente para controlar a inflação. “A ata do Copom manteve o tom do comunicado, reforçando os desafios para garantir a convergência da inflação à meta e que demandará uma política monetária restritiva por bastante tempo. Entretanto, o Comitê reforça que possui maior confiança de que a taxa corrente é suficiente para garantir a convergência da inflação”, afirmou.
Valério também chama atenção para o trecho em que o BC retoma o alerta fiscal, e reforça o pedido de coordenação entre as políticas monetária e fiscal. “O Copom também enfatizou a necessidade de maior coordenação entre as políticas monetária e fiscal, com estímulos no curto prazo podendo tornar a demanda agregada menos sensível à taxa de juros, enquanto a questão estrutural poderá exigir um prêmio de risco maior, aumentando o custo de desinflação à atividade”, disse.
O economista lembra que o Copom também incorporou ao cenário de referência o impacto da nova isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil, mas avalia que a medida não alterou o quadro central. “Essas medidas poderiam levar a uma discrepância em relação ao cenário delineado, mas não provocaram divergências relevantes em relação ao que se esperava.”
Na visão dele, as condições para um corte começam a se formar. “Nossa expectativa é que o Copom dê início ao ciclo de cortes na reunião de janeiro, com um corte de 25 pontos-base. Esperamos que nessa reunião a projeção do Copom para o horizonte relevante já indique uma inflação na meta, o que, juntamente com a desaceleração da inflação corrente, maior ancoragem das expectativas e continuidade da desaceleração da atividade, inclusive com a possibilidade de um PIB negativo no 3º trimestre, criem as condições necessárias para o início do ciclo de cortes.”